No domingo passado, 50,3 por cento dos suíços aprovaram em referendo uma iniciativa denominada «Contra a Imigração em Massa», que restabelece o princípio da preferência pelo trabalhador nacional face ao estrangeiro, que se encontrava abolida para todos os trabalhadores oriundos de alguns dos países da União Europeia.

A iniciativa prevê a revisão nos próximos três anos dos tratados internacionais, o que afeta, entre outros países, as relações com a União Europeia. Na Suíça, residem cerca de 250 mil portugueses e lusodescendentes, um número que tem aumentado nos últimos anos devido à crise em Portugal e na União Europeia.

As limitações já preocupam o governo português e começaram a mexer com o futebol, pois é conhecida a tendência de integração de imigrantes no campeonato suíço e até na Seleção. Fica até a dúvida sobre o que valeria a equipa nacional se não existissem os jogadores provenientes de outros países. As piadas começaram na internet pouco depois do referendo ter sido aprovado.



Se a Suíça entusiasmou na fase de apuramento para o Mundial e garantiu presença no Brasil não foi pelos jogadores puramente suíços, dado que as suas maiores estrelas têm ascendência estrangeria ou até nasceram fora deste país. São os casos de Xherdan Shaqiri, Granit Xhaka, Valon Behrami, Admir Mehmedi, Blerim Dzemaili e Pajtim Kasami, todos de ascendência albanesa ou kosovar.

No último jogo realizado pela Seleção Suíça, de cariz particular, frente à Coreia do Sul, dos onze titulares apenas quatro não tinham ascendência estrangeira: Michael Lang, Fabian Schar, Reto Ziegler e Steve Bergen.



Faltava ainda adicionar a este onze as figuras proeminentes Xherdan Shaqiri (Bayern Munique) e Valon Behrami (Nápoles), que foram poupados deste jogo particular, mas que certamente estarão nas escolhas do alemão Ottmar Hitzfeld para a fase final.

Valorização do jogador suíço

Jorge Teixeira conhece bem a realidade suíça. O defesa-central, 27 anos, formado no Sporting está no FC Zurique desde 2010 e considera que numa primeira abordagem esta decisão política «não vai beneficiar o futebol suíço»

«A maior parte dos clubes têm jogadores estrangeiros e até mesmo a seleção nacional é basicamente repleta de jogadores estrangeiros naturalizados. Por isso, penso que vai sair prejudicado o futebol na Suíça e o campeonato vai perder muita competitividade, quer a nível interno quer a nível externo, quando nos últimos tempos até tinha vindo a crescer imenso», referiu o jogador ao Maisfutebol.

No entanto, poderá haver um lado positivo na situação, caso as limitações no futebol avancem. «Por outro lado, também concordo com esta regra que dará a oportunidade a muitos jogadores suíços se mostrarem mais e poderem ter novas oportunidades», frisou, fazendo uma leitura à luz da realidade nacional: «Penso que Portugal devia seguir este exemplo e estabelecer um certo limite de estrangeiros no plantel e até no primeiro 11».

No FC Zurique, Jorge Teixeira não é o único imigrante, dado que ao seu lado jogam também o português David Costa, o brasileiro Pedro Henrique, o italiano Leandro Di Gregorio, o israelita Avi Reikan, os montenegrinos Ivan Kecojevic e Asmir Kajević, o croata Stjepan Kukuruzović, os tunisinos Yassine Chikhaoui e Amine Chermiti, os albaneses Burim Kukeli e Armando Sadiku e o camaronês Franck Etoundi. São 13 estrangeiros e 16 suíços.

Jorge Teixeira não tem razões de queixa e esta época até está a correr bem. Pretende continuar com este estatuto de imigrante, estando em final de contrato: «Tive alguns contactos com clubes especialmente de Itália mas não de Portugal e não penso que regressarei a Portugal na próxima época. Tive também umas ofertas para sair em janeiro de clubes que estão no topo do campeonato suíço mas o meu rejeitou essa possibilidade».