Terminou em último, mais de um minuto depois de qualquer outro, mas foi para ele a maior ovação do dia na pista de remo dos Jogos Olímpicos de Londres. Hamadou Djibo Issaka teve o seu momento de glória em Londres 2012, quando o público reconheceu o esforço de um atleta que só se estreou nisto há três meses.

Issaka cortou a meta 1m39s depois do vencedor dessa eliminatória de Single Sculls. Terminou ao fim de 8m25s, mais de um minuto depois do penúltimo, um remador de El Salvador. Percorreu portanto um longo minuto na água sozinho. Nas bancadas, 20 mil espectadores davam-lhe ânimo: «Tu consegues!»

No fim estava exausto, com dificuldades em recuperar a respiração, conta a Reuters. Depois, o atleta de 35 anos do Níger explicou porquê: «Só faço remo há três meses.»

Issaka chegou aos Jogos Olímpicos graças a um «wild card» atribuído pelo Comité Olímpico, que tem essa prerrogativa para países menos desenvolvidos desportivamente. E acredita que a sua participação vai fazer muito pela modalidade no seu país: «Há muitas pessoas que querem começar a remar porque eu vim aos Jogos Olímpicos. Vamos começar quando eu voltar. Só temos de esperar que cheguem os barcos.»

A história de Issaka motivou comparações com a de Eric Moussambani, o nadador da Guiné Equatorial que comoveu o mundo nos Jogos de Sydney, em 2000, quando nadou sozinho uma eliminatório de 100m livres (os outros dois atletas nesse heat foram desclassificados) se viu em evidentes dificuldades para terminar a prova, acabando por concluí-la sob enorme ovação em 1m57s, mais de duas vezes o recorde do mundo na distância.

Eric, que nunca tinha nadado numa piscina de 50 metros e se tinha estreado a nadar numa piscina meses antes, num hotel no seu país, ficou para a história dos Jogos Olímpicos. Continuou a nadar, melhorou o seu tempo e hoje é treinador da seleção de natação no seu país, que desta vez não tem nenhum representante nos Jogos Olímpicos.

A presença de atletas com nível competitivo muito inferior à média não é pacífica. Há quem defenda o facto de terem uma oportunidade, mas também quem critique a opção.

Steve Redgrave, pentacampeão olímpico britânico no remo, é um deles. «Devemos encorajar mais atletas a envolver-se. Mas há atletas com melhor nível doutros países que não são autorizados a competir», afirmou.