Senzo Meyiwa tinha acabado de celebrar 27 anos, afirmava-se na seleção da África do Sul e era o titular da baliza dos Orlando Pirates. No sábado ocupou o seu lugar na vitória sobre o Ajax Cape Town (4-2) que colocou a equipa na meia-final da Taça da Liga sul-africana. No domingo foi morto a tiro, quando estava em casa da namorada, com amigos.

A África do Sul ainda não se recompôs do caso Oscar Pistorius e vê-se agora a ter de lidar com mais esta notícia brutal. Depois do atleta que disparou quatro tiros sobre a namorada, argumentando que a confundiu com um ladrão, novo caso de violência com armas de fogo, aparentemente tendo como ponto de partida um assalto, a vitimar alguém que diz muito a tanta gente.

A morte de Senzo faz reviver de forma cruel um problema profundo que a sociedade sul-africana pareceu a certa altura estar a conseguir combater, mas que está de novo a aumentar. São assassinadas no país mais de 50 pessoas por dia. Foram 17 mil em menos de um ano entre abril de 2013 e março de 2014, segundo dados oficiais, um aumento de cinco por cento em relação ao anterior.

Agora, Senzo Meyiwa. Um jogador unânime, que o país estava a ver crescer e a atingir o auge da sua carreira. Um homem com sonhos. E heróis, como Iker Casillas. O guarda-redes estreou-se na seleção da África do Sul em maio de 2013 e, em novembro, estava na baliza no particular com a Espanha, quando a Roja regressou ao palco onde foi campeã do mundo em 2010.

A África do Sul venceu por 1-0 e Senzo partilhou com orgulho nas redes sociais a camisola que tinha conseguido trocar com o seu ídolo, Iker Casillas. O guarda-redes espanhol recordou esse momento nesta segunda-feira.

Muy triste por la dramática pérdida de un compañero DEP Senzo

A photo posted by Iker Casillas (@ikercasillasoficial) on



Casillas foi um de muitos nomes do futebol internacional a recordar Senzo nas últimas 24 horas. Aqui a reação de desesperto de Darren Keet, número 2 da baliza da África do Sul.




Kevin-Prince Boateng:




Ou Gary Lineker


Senzo morreu na tarde de domingo, a informação foi confirmada ao final do dia pela polícia sul-africana. O jogador estava em casa da namorada, a atriz Kelly Khumalo, na township de Vosloorus, a sul de Joanesburgo. Terá havido uma tentativa de assalto por parte de dois homens, com um terceiro cá fora. Exigiram, relata a polícia, os telemóveis e outros pertences das pessoas que estavam na habitação. Senzo foi alvejado e chegou ao hospital já sem vida.

Ainda no domingo, a polícia prometeu desde logo uma recompensa a quem tivesse informações sobre o que se passou, um procedimento habitual no país.



Esse valor foi aumentado nesta segunda-feira para 250 mil rands, cerca de 18 mil euros.

Esta manhã, em conferência de imprensa, a polícia revelou ainda que Senzo estaria a dirigir-se para a porta quando foi alvejado no peito. E também garantiu de que não há qualquer indicação de que possa ter sido um homicídio premeditado. «Não temos provas que sugiram que foi um homicídio contratado», disse Norman Taioe, um dos responsáveis pela investigação, a que as autoridades sul-africanas atribuíram prioridade máxima.

De caminho, as autoridades divulgaram a informação de que dispôem nesta altura sobre os suspeitos.




A África do Sul procura lidar com mais esta tragédia, que surge, igualmente, três dias depois de outra morte de um dos grandes desportistas do país: Mbulaeni Mulaudzi, ex-campeão do mundo dos 800m, que faleceu num acidente de viação.



O presidente sul-africano, Jacob Zuma, dirigiu-se ao país para exortar a polícia a não deixar nada por esclarecer nesta e caso e para expressar o «choque de uma nação». Ephraim Mashaba, o selecionador da África do Sul, falou por entre as lágrimas sobre um jogador que era também um homem bom: «Senzo era uma pessoa muito boa. Nunca o vi triste ou zangado com ninguém. O Senzo é um jogador de equipa, o Senzo é tudo.»

O futebol sul-africano, pelo menos por uns dias, vai fazer uma pausa, em respeito à memória de Senzo. O clássico entre os Orlando Pirates e os Kaizer Chiefs, que estava marcado para sábado, foi adiado, ainda sem nova data.