Um ano depois de deixar definitivamente os relvados, John Moshoeu morreu. Tinha 49 anos e lutava há vários meses contra um cancro no estômago.

Pela primeira vez na vida, Shoes, como era carinhosamente tratado, falhou um drible. A imagem é alimentada por todos o que o conheceram no mundo do futebol.

Moshoeu foi um dos melhores futebolistas africanos de todos os tempos. Conquistou a CAN em 1996, com a camisola da África do Sul, e dois anos depois esteve no Campeonato do Mundo organizado pela França.

Vestiu a camisola 10 e jogou os 90 minutos dos três jogos realizados pelos Bafana Bafana: derrota 0-3 contra a seleção da casa e empates (1-1 e 2-2) diante da Dinamarca e da Arábia Saudita.

Nessa seleção estavam Benni McCarthy, Lucas Radebe, Quinton Fortune e Shaun Bartlett, mas o talento-mor era John Shoes Moshoeu.

«Isto é muito, muito triste. Ele foi um futebolista tremendo, muito parecido com o Messi».

Neil Tovey, capitão da seleção da África do Sul na CAN96, foi dos primeiros a reagir a esta tragédia que já se anunciava, em declarações à BBC Sport.

O anúncio do desaparecimento de Moshoeu foi feito através de Glyn Binkin, amigo e empresário, através de uma rede social. Confirmavam-se os piores receios. Profundamente apaixonado por futebol, John Moshoeu jogou até aos 48 anos. Nasceu no Soweto, destacou-se no Kaizer Chiefs e em 1993 chegou ao futebol europeu.

Passou dez anos na Turquia e representou quatro clubes: Genclerbirligi, Kocaelispor, Fenerbahce e Bursaspor. Foi treinador por Franz Beckenbauer, Joachim Low e Carlos Alberto Parreira, foi adorado pelos insaciáveis adeptos turcos, encheu os relvados desse país com o perfume de um futebol raro.

Vestiu a camisola da seleção sul-africana 73 vezes (oito golos), adorava Nelson Mandela e não se imaginava a viver longe do desporto que sempre amou.
 

John Moshoeu (primeiro a contar da direita, em baixo) no Mundial98

Em 2008 decidiu afastar-se dos relvados, mas não aguentou muito tempo. Voltou em 2010, já com 45 anos, para ser treinador e jogador do Alexandra United, um pequeno clube de Joanesburgo.

Uma das suas derradeiras aparições públicas data de maio de 2014, depois de ter sido afastado do cargo de treinador pelo presidente do Alex Utd. John Moshoeu ficou inconsolável.

«Investi tanto neste clube e fazem-me isto. Ia buscar os atletas, falava com as famílias deles, conduzia o autocarro do clube, tudo isso para nada. Joguei 30 anos ao mais alto nível, não percebo a opção da direção»
.

Shoes
não voltaria ao futebol.   

John Moshoeu a jogar contra a França no Mundial98:




Os primeiros sintomas da doença surgiram no início de 2015. John começou a ter dores abdominais, a alimentar-se mal, mas durante várias semanas nenhum diagnóstico médico foi concludente. Em fevereiro andou de hospital em hospital, até se conhecer a real extensão do problema.

Nessa altura, uma piada de mau gosto deixou a família de John arrasada. Um anónimo fez-se passar por médico e anunciou a morte do ex-futebolista a Reena Moshoeu, mãe de John. Depois disso, pouco ou nada se soube sobre o seu estado de saúde.

«Somos pessoas boas, o meu filho é um bom rapaz. Não é um violador, não é um ladrão, não é um assassino. É uma pessoa doce e trata bem toda a gente, mas alguém decidiu telefonar-me a dizer que está morto. A partir de agora a minha família não voltará a falar publicamente»
.
Dois meses depois da brincadeira de mau gosto, John Moshoeu faleceu.

Foi um futebolista elegante, um driblador nato, veloz e frágil.

« Com um movimento de corpo mandava um defesa para um lado e fugia pelo outro. Adorava fazer isso»
, recorda Neil Tovey, antigo colega de equipa.

E aos 40 anos, John Moshoeu ainda fazia golos destes: