Sabia que o campeonato português é um dos poucos na Europa em que o tempo médio de permanência de um jogador num clube não chega às duas temporadas? E sabia que entre as Ligas europeias só a romena tem mais transferências do que a portuguesa, em cada verão? Sabia, por fim, que o Barcelona tem a média de alturas mais baixa de todos os plantéis em 31 campeonatos europeus?

Mesmo que não soubesse, se calhar suspeitava, ou já tinha ouvido dizer por alto. Mas a partir desta semana pode saber isto, e muito mais, com um simples clique a dar-lhe números e certezas suficientes para o fazer ganhar qualquer discussão de café. Estas curiosidades, e muitas outras, estão documentadas numa nova funcionalidade criada pelo Football Observatory, departamento de análise e estatística do futebol internacional que integra o CIES (Centro de Estudos Internacionais do Desporto), organismo criado e financiado pela FIFA, em parceria com a Universidade de Neuchâtel.

Lançado esta semana para comemorar o 10º aniversário do observatório, o atlas interativo online (pode ser consultado aqui: http://www.football-observatory.com/IMG/swf/da2015_v01_eng.swf), reúne e trabalha dados estatísticos comuns a 31 Ligas europeias, atualizando-os ao longo da temporada. Isto permite aos profissionais da área – dirigentes, treinadores, jornalistas, investigadores, mas também adeptos e simples curiosos – comparar realidades de país para país ou perceber as hierarquias internas em cada Liga.

Previsões do CIES para a Premier League 2014/15


Trabalhados em dez variáveis, os dados dão-nos uma visão global sobre o futebol europeu, permitindo-nos ainda comparar a realidade atual com os últimos cinco anos. E, no caso específico do futebol português, confirmam a ideia de uma Liga muito vocacionada para o mercado de transferências e para a escassa estabilidade dos plantéis. Eis alguns dados que confirmam essa ideia:



As Ligas europeias em que os jogadores permanecem mais tempo nos clubes são, por ordem, a alemã (2,91 anos em média), a sueca (2,82) e a inglesa (2,76). No outro extremo da tabela, só em seis Ligas esse valor está abaixo dos dois anos: Portugal (1,95), Grécia, Chipre, Roménia, Bulgária e Sérvia (a mais baixa, com 1,71)

No que se refere a clubes, Real Sociedad (5,26 anos), CSKA Moscovo (4,91), Real Madrid (4,32) e Barcelona (4,04) estão entre os mais conservadores, com Dortmund e Bayern também a entrarem no top-10. O clube português mais «estável» é o Marítimo (2,88 anos em média), seguido do Benfica (2,43). Os mais revolucionários são Boavista (1,44), Académica e Moreirense (1,50).

No item «contratações», a Liga portuguesa surge num impressionante 2º lugar entre 31 países, com média de 13,8 reforços anuais por clube. Só a Roménia tem um valor mais alto (14,2). De entre os principais campeonatos, a Série A (13,1) aproxima-se do registo português, com Espanha (10,8), Inglaterra (10,7), Alemanha (7,8) e França (7,6) bem atrás.  FC Porto e V. Setúbal (18 cada) foram os clubes que mais contribuíram para a média portuguesa, enquanto Rio Ave e Arouca (nove cada) foram os mais contidos.



Outro aspecto em que a Liga portuguesa surge nos primeiros lugares da tabela é na utilização de estrangeiros: com 53% é a quarta em 31, apenas atrás de Chipre (69,2%), Inglaterra (59%) e Itália (54,3%). O FC Porto, com 82,8% de estrangeiros no plantel, está no terceiro lugar entre os clubes europeus, atrás do Chelsea (87%) e dos cipriotas do Doxa Katokopia, recordistas com 91%.  

Ah, a formação, essa discussão eterna! Portugal (24º em 31) está entre os campeonatos europeus com menos jovens promovidos à primeira equipa com a época a decorrer: 0,72 por clube, um valor que, ainda assim, é superior aos da Liga Inglesa (0,20) e italiana (0,30) e está em linha com a alemã. Líderes destacados nesta categoria, os clubes finlandeses lançam em média 3,33 jogadores sub-19 por clube.

Outro ângulo de análise no aproveitamento da formação volta a deixar Portugal na cauda da tabela (27º lugar): a utilização de jogadores formados no clube (isto é, com pelo menos três temporadas nos escalões). Os clubes portugueses usam em média 12,3 por cento de jogadores da cantera, só à frente de Turquia, Itália, Chipre e Rússia. Dos grandes campeonatos, o valor mais alto é da França (24%), seguido da Espanha (22%) e Alemanha (16,6%).



Neste item, por clubes, o Sporting é, sem surpresa, o português com melhor registo (31%), seguido de Belenenses (25%), Penafiel e Marítimo (24%) cada). Benfica (10%) e FC Porto (3,4%) têm valores abaixo da média, mas ainda assim acima dos apresentados por Moreirense, Sp. Braga, Arouca e Estoril.

No que diz respeito a clubes formadores, o Sporting é o único português no top-10 europeu: tem 47 jogadores formados na Academia espalhados pelos vários campeonatos europeus, tantos como o Real Madrid. O líder destacado desta categoria é o Ajax (77 jogadores), seguido de perto pelo Partizan de Belgrado (74) e não tão perto pelo Barcelona (54). Ainda assim, FC Porto (41) e Benfica (36) estão entre os 30 maiores formadores europeus.



Curiosidades avulsas: o Barcelona tem o plantel mais baixo de todo o futebol europeu (1,77 m de média) enquanto o Dyosgyor, da Hungria apresenta a média mais alta (1,86 m). O Fenerbahçe, de Bruno Alves e Raul Meireles, está entre os planteis europeus com média de idade mais alta em toda a Europa (29,3), com Manchester City e Juventus
(28,8) também no top-10. O único nome sonante entre os plantéis mais jovens é o do PSV Eindhoven, com média de 22,8.