O conto de fadas islandês continua a encantar o Campeonato da Europa, agora a deixar a Inglaterra, que não perdia um jogo numa fase final de um Europeu no tempo regulamentar desde 2004, pelo caminho. A equipa de Roy Hodgson até entrou no jogo a ganhar, com uma grande penalidade convertida por Wayne Rooney, logo a abrir o jogo, mas os «vikings» responderam com dois golos de rajada e destroçaram por completo a seleção dos três leões que, até ao final do jogo, já não conseguiu voltar ao jogo.

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Ficou claro que o empate com Portugal (1-1), logo na abertura do torneio, não se deveu totalmente à incapacidade da equipa de Fernando Santos, mas também à audácia dos islandeses que voltou a estar em primeiro plano no jogo desta noite em Nice. Depois da vitória sobre a Áustria (2-1), que permitiu à Islândia destacar-se à frente de Portugal no Grupo F, a equipa comandada por Lagerback continua decidida a fazer história, num jogo que teve os três golos marcados antes dos primeiros vinte minutos.

A Inglaterra voltou a entrar em campo com o capitão Wayne Rooney, mais recuado, numa linha com Eric Dier e Dele Alli no apoio ao trio de ataque, desta vez, constituído por Sterling, Harry Kane e Sturridge. A equipa de Roy Hodgson entrou forte no jogo, com uma elevada posse de bola, boa circulação e a conseguir profundidade, diante de uma Islândia mais na expetativa, a defender à zona, sem pressionar muito o detentor da bola. Logo aos 4 minutos, falta clara do guarda-redes Haaldórsson sobre Sterling a permitir a Wayne Rooney, desde a marca dos onze metros, marcar o seu primeiro neste Euro. Parecia que estava aberto o caminho para uma vitória fácil da Inglaterra, mas os minutos seguinte deixaram claro que não ia ser fácil e nem sequer ia ser uma vitória, mas sim um enorme escândalo para a «velha Albion» e uma mega-festa para a pequena e fria Islândia.

Bola ao centro e a Islândia empatou logo a seguir, aos 6 minutos. Lançamento longo de Gunnarsson [impressionante a força de braços desde jogador], Árnasson coloca a bola na área e Sigurdsson, vindo de trás, antecipa-se a toda a gente para desviar as bolas para as redes de Joe Hart. Uma subida em bloco que surpreendeu por completo uma Inglaterra muito lenta nas transições defensivas. Prova disso é que este golo islandês foi construído pelos dois centrais. Uma assistiu, o outro finalizou.

Começava a dar frutos a estratégia islandesa de dar pouca importância à bola e de concentrar-se, acima de tudo, numa boa ocupação dos espaços, com destaque para a permanente colaboração entre os extremos e os laterais na missão de fechar os corredores aos ingleses. O controlo da Inglaterra era, assim, ilusório. A posse de bola era elevada, a bola rodava de uma ala a outra com facilidade, mas sem conseguir profundidade. Um controlo oferecido e que não dava frutos. Dele Alli e Harry Kane ainda experimentaram uns pontapés de longe, mas foi a pragmática Islândia que voltou a marcar aos 18 minutos, num lance em que a defesa inglesa consentiu muitas facilidades. A Islândia voltou a subir em bloco, trocou a bola à vontade à entrada da área, Bodvarsson serviu Sigbórsson que, ainda fora da área, atirou colocado. Joe Hart ainda se esticou, mas não conseguiu evitar que a bola ultrapassasse a linha fatal. Ainda não se sabia, faltavam muitos minutos, mas o resultado histórico ficava aqui definido.

Estatística: Inglaterra com mais posse de bola, mas bem menos eficaz

A festa dos islandeses, nas bancadas, ganhava um novo ânimo e sobrepunha-se ao contínuo «God save the Queen» dos ingleses. A Inglaterra voltava a carregar até ao intervalo, mas sem incomodar muito, com Rose e Walker a encontrar os corredores obstruídos e Wayne Rooney sem o devido apoio para provocar desequilíbrios na zona central.

Roy Hodgson não esperou muito mais e, logo a abrir a segunda parte, abdicou de Eric Dier para colocar Wilshere ao lado do capitão. A Inglaterra continuava a carregar, mas a verdade é que parecia estar cada vez mais longe da baliza de Halldórsson. A Islândia manteve-se coerente na marcação à zona, sempre de forma disciplinada, mas foi ganhando confiança e foi subindo no terreno. Enquanto no início do jogo a Inglaterra ainda conseguiu rodar a bola à entrada da área, agora fazia a circulação sobre a linha do meio-campo. A entrada de Wilshere deu a ideia que a Inglaterra tinha agora mais soluções na frente, mas a Islândia raramente abanou e teve até uma possibilidade flagrante para matar o jogo, aos 56 minutos, com um espetacular pontapé de bicicleta de Sigurdsson a obrigar Joe Hart a uma defesa por instinto.

Hodgson ainda reforçou o ataque, juntando Vardy a Kane, mas foi a Islândia que voltou a estar mais perto do terceiro golo, com destaque para um rápido contra-ataque de Gunnarsson que entrou na área, trocou as voltas a Wilshere e deixou as luvas de Joe Hart a ferver.

Já em desespero, Hodgson lançou ainda Rashford para a contenda e Joe Hart subiu para a área contrária, mas o golo do empate nunca chegou. A Inglaterra não perdia um jogo numa fase final de um Campeonato da Europa desde o Euro2004, em Portugal [derrota diante da Rússia na fase de grupos], mas caiu agora com estrondo.

Segue-se a França no caminho destes cada vez mais temíveis islandeses.