A saúde dos jogadores do Olhanense vai passar a ser monitorizada por um método inovador no futebol português: a termografia, que é um dos métodos mais modernos de diagnóstico por imagem digital. É uma técnica que permite diagnosticar lesões antes de estas surgirem ou se agravarem, bem como revelar inúmeras doenças muitas vezes não detetadas por outros métodos e de forma ainda mais precoce.

«A termografia, a que prefiro chamar termoscopia, é como se fosse um estetoscópio dos olhos. Vai permitir-nos ver o que os nossos olhos não vêm. Tem múltiplas aplicações e, no caso da medicina desportiva, dá para ver lesões musculares, as contusões, os focos de inflamação; e, a partir daí, fazer-se a prevenção. Mas tem outras aplicações e é muito eficaz na deteção de cancros da mama e da próstata», explicou o Professor José Travassos Valdez, responsável pela sua introdução em Portugal.

A termografia já faz parte do departamento médico de clubes como o Real Madrid, o Real Zaragoza, em Espanha, e o Cruzeiro, no Brasil. «As mentalidades em Portugal são resistentes às inovações. É preciso termos sucesso lá fora para conseguirmos vingar aqui», disse José Valdez, em relação à (quase) nula expressão que ainda tem no futebol português.

«Esta metodologia vem da escola médica russa. Trouxe isto para Portugal há cerca de doze anos. Até agora, o que era conhecido no ocidente era a termografia americana e inglesa, que praticamente só fazem mama e partes musculares. Esta termografia russa serve para todas as especialidades médicas. É um auxiliar de diagnóstico. É um prolongamento da visão porque vamos ver abaixo do campo de visão, com o infravermelho e o ultravioleta. Captamos a emissão de calor do corpo e, a partir daí, fazemos um diagnóstico», decifrou o especialista explicando depois o funcionamento do aparelho, que custa pouco mais de três mil euros. «Isso é praticamente o custo dos três exames que uma pessoa faz à coluna. Se fosse aplicado no Serviço Nacional de Saúde, seriam poupados milhões de euros por ano. Só à coluna, poupavam-se milhões. Os três exames seriam reduzidos a um», observou.

«O sistema surgiu nos Estados Unidos, no campo militar, sendo utilizada para a deteção dos inimigos durante a noite, ou quando fazem assaltos a edifícios, porque dá para ver quem está lá dentro, e onde é que estão, e foi depois introduzido pelo Dr. Lawson na área médica, na prevenção e diagnóstico do cancro da mama. Na Rússia, usaram noutra perspetiva: enquanto um americano vê e pergunta o que é isto?, os russos fizeram-no ao contrário. Partiram de diagnósticos conhecidos, e a diferença é enorme.», historiou depois.

As vantagens

José Valdez explanou ainda as vantagens da termografia: «Num minuto temos o panorama completo do corpo de um atleta. Dou-lhe o exemplo de uma ciática, em que o caminho normal é Raio X, TAC e ressonância magnética. E há situações de sintomas que são exatamente iguais, mas não são ciáticas, porque para ser uma ciática verdadeira tem que haver uma compressão do nervo ciático – como diversas inflamações que têm um quadro clínico de ciática sem ser ciática. Com a termografia, em dois minutos sabe-se o que se tem. Pela via normal passamos por três exames cheios de radiação, e no final, se calhar, não se tem o diagnóstico correto. Não emite radiações, pode ser utilizado as vezes que quisermos e tem a vantagem de também se monitorizar as lesões, podendo-se verificar todos os dias se o tratamento está a ser eficaz.»

Com a termografia, mede-se a radiação térmica (calor) emitida pelo corpo ou partes deste podendo, portanto, ser utilizada para diagnóstico de lesões sendo possível orientar melhor o atleta, como por exemplo, sugerir que não force nos treinos, recomendar alguns dias de descanso, indicar reforço muscular, ou mesmo antecipar-se a uma lesão tratando-a antes que se torne evidente.

Os primeiros resultados

Ricardo e Luís Filipe foram os primeiros a serem monitorizados, na apresentação à comunicação social. Tudo bem com os dois em relação a lesões, mas muito trabalho para o massagista, devido às tensões musculares. E até o experiente guarda-redes conseguiu ser surpreendido pela máquina.

«Há pontos de tensão – que são normais e basta uma corrida para os ter –, mas não há lesões. Mas sabemos que existem áreas que estão tensas e o massagista, sabendo quais são, pode trabalhar esses músculos e evitar o excesso de esforço que pode levar à lesão. Essas tensões têm que ser trabalhadas e desbloqueadas.», detetou José Valdez, em Ricardo, que brincou: «Um gajo aos 28 anos tem… tensão!».

«Aqueles dois pontos que estamos a ver junto aos joelhos, são os sartórios. É um músculo que se estende por dentro da perna e que causa dor internamente. Tem que ser feito um trabalho de massagem para desbloquear…», continuou. «Nunca fiz massagem nessa zona, na minha vida», observou Ricardo, que acrescentou: «Se calhar, como sou guarda-redes, trabalho mais os músculos de cima. «Mas os seus trapézios estão bastante tensos. Precisa de umas massagens.», acrescentou, José Valdez. «Tensos? Pudera, estou sempre a mandar-me para o chão!», respondeu Ricardo.