Os atletas estão contra a continuidade de Vicente Moura à frente do Comité Olímpico de Portugal (COP) e, nesse sentido, não vão apoiar a sua recandidatura. A posição foi manifestada esta quarta-feira, no Estádio Nacional, numa conferência de imprensa que reuniu alguns dos melhores classificados nos Jogos de Pequim e o próprio medalha de ouro no Triplo Salto.
«O presidente do COP não se tem portado à altura dos atletas. Fomos abandonados quando mais precisávamos de apoio. Gostaríamos que o movimento associativo ouvisse os atletas e encontrasse alternativas. Gostávamos de uma mudança», defendeu Nuno Fernandes, presidente da Comissão de Atletas Olímpicos, ladeado por Nelson Évora, Gustavo Lima (Vela), Simão Morgado (Natação), Joaquim Videira (Esgrima), Nuno Pombo (Tiro com Arco) e Paulo Bernardo (Disco).
Perante jornalistas e atletas - na assistência estavam, também, Marco Fortes (Martelo), a dupla Álvaro Marinho/Miguel Nunes (Vela), Arnaldo Abrantes (Atletismo) e Tiago Venâncio (Natação), entre outros -, Nuno Fernandes lamentou o facto de a Federação Portuguesa de Atletismo ser a «única» a ter «a coragem pública de denunciar algumas situações e de pedir uma reflexão» sobre o momento. «Isso entristece-nos», acrescentou.
Uma das consequências da recondução de Vicente Moura no cargo será a demissão de Nuno Fernandes. «Ao contrário do que aconteceu com o comandante, será a minha saída da Comissão de Atletas Olímpicos. Se sou o líder e tomo uma posição contra não tem cabimento continuar [caso Vicente Moura seja reeleito]», defendeu o antigo atleta do F.C. Porto (Salto com Vara).
«Seria bom que o movimento associativo encontrasse alternativas e não optasse pelo caminho mais fácil», perspectivou.
Marco Fortes «humilhado», Telma Monteiro e Francis Obikwelu falaram de mais
Marco Fortes, o primeiro português a superar a barreira dos 20 metros no Lançamento do Peso e também o primeiro a apurar-se para umas Olimpíadas naquela disciplina, foi o protagonista de um episódio que gerou muita celeuma, primeiro em Pequim e depois em Portugal, quando após a sua eliminação dos Jogos ter dito que «de manhã está-se bem é na caminha».
Para Nuno Fernandes, o episódio foi «infeliz», mas mais lamentável foi o comportamento de Vicente Moura e de Manuel Boa de Jesus, chefe da missão. «Negaram sempre que tivessem expulsado Marco Fortes da aldeia olímpica, mas o relatório da missão, agora apresentado, confirma que o atleta foi expulso», acusou.
«Marco Fortes tem de aprender com o erro, mas nunca deveria ter sido enviado mais cedo para casa. Não se pode esperar que um atleta tenha um discurso correcto e coerente minutos após ter visto o seu sonho olímpico desvanecer-se», defendeu, ainda.
Quanto aos resultados da delegação portuguesa, Nuno Fernandes não tem dúvida que «a avaliação foi positiva». O problema, no seu entender, deveu-se à «má gestão das expectativas», fossem do presidente do COP, das Federações e até dos próprios atletas.

«A Telma não está aqui, mas vou falar sobre ela. Prometeu uma medalha olímpica quando nos europeus de Lisboa estava na bancada. Prometeu uma medalha quando não estava em competição. O Francis também disse que ia lutar por uma medalha e nos meetings que realizou durante o ano não conseguiu obter marcas que o colocassem entre os dez melhores do mundo», observou Nuno Fernandes sobre dois dos (considerados) principais candidatos ao pódio.