Começaram os Jogos Olímpicos de Sydney. A chama olímpica já está acesa. Cathy Freeman, campeã de 400 m de origem aborígene, foi a eleita para, no meio de um fantástico jogo de águas e fogo, acender a pira olímpica e abriu os 27º Jogos Olímpicos da Era Moderna.  

No estádio, a tocha passou de mão em mão numa estafeta composta apenas por mulheres, ex-atletas australianas, no ano em que se comemoram os 100 anos da entrada do sexo feminino na competição olímpica.  

Ao som da música oficial dos Jogos de Sydney, «The Flame», cantada por Tina Arena, Betty Cuthbert, bicampeã de 100 e 200 m em 1956, deu ínicio à caminhada. A tocha passou ainda por cinco atletas, entre as quais Dawn Fraser,tri-campeã olímpica de 100 m livres, que conduziu a chama às mãos de Cathy Freeman. 

A cerimónia oficial de abertura dos Jogos Olímpicos de Excelência, nome pelo qual são apelidados os Jogos Olímpicos de Sydney 2000, começou às 19 horas em ponto na Austrália (9 h em Portugal), com uma temperatura favorável, de 17 graus. A festa, que envolveu 12 500 figurantes, teve como tema central a realidade e a tradição australianas, com o mar e os aborígenes em destaque. 

No Estádio Olímpico de Sydney, perante 110 mil pessoas e em directo para 180 estações de televisão, o espectáculo começou com a entrada de uma imensidão de cavaleiros, transportando a bandeira dos Jogos Olímpicos e desfilando pelo recinto, até se imobilizarem para formar os cinco anéis, símbolo dos Jogos Olímpicos e representantes dos cinco continentes.  

Depois, sobre um palco de três andares, surgiram os Human Nature que, acompanhados por Julie Anthony, cantaram o hino australiano. Momento de emoção nas bancadas, seguido por um momento de silêncio e expectativa, quebrado por uma criança que entrou sozinha no estádio com a «intenção de dormir e sonhar».  

O sonho não era mais do que o mar, com peixes e alforrecas gigantes a sobrevoar o estádio e uma maré gigante junto ao relvado feita por um enorme lençol. Os nativos com pinturas de guerra, ao som de tambores, e várias manifestações da cutura australiana, dominaram o resto da festa, até um dos momentos mais esperados: o desfile dos atletas dos vários países. 

Desfile pela reconciliação 

São perto de 10 500 atletas oriundos de 200 países que vão competir em 28 desportos. Como manda a tradição, a Grécia foi o primeiro país a fazer a sua apresentação. As seguintes nações desfilaram por ordem alfabética entre os muitos aplausos do público presente.  

O grande destaque da marcha foram a Coreia do Norte e do Sul, que como já tinham anunciado, desfilaram sobre uma única bandeira. Uma união simbólica, que não passará deste desfile, uma vez que os atletas não irão competir em conjunto. 

O desfile das nações terminou com a volta ao estádio da Austrália, que foi antecedida de um momento simbólico - o desfile dos quatro atletas da mais jovem nação do mundo, Timor. Portugal teve a desfilar 40 dos 62 atletas presentes em Sydney, numa marcha aberta pelo voleibolista Miguel Maia, que depositou a bandeira portuguesa junto às outras. 

Terminado o desfile, já com os atletas de todos os países no recinto, desceu do cimo do Estádio um enorme lençol onde foram projectadas imagens de atletas em competição. A bandeira chegou ao meio do estádio e ocupou toda a extensão do revaldo, altura em que foi projectada a pomba branca e em seguida o símbolo dos Jogos Olímpicos. 

Nos discursos oficiais, Juan Saramanch, presidente do Comité Olímpico Internacional fez uma profunda homenagem aos aborígenes australianos. No seu discurso de boas vindas, Samaranch homenageou o olimpismo como forma de «unir os homens e as mulheres de todas as raças e crenças».  

As palavras do presidente do COI, um espectáculo dominado por alusões aos nativos e a escolha de uma atleta aborígene para transportar a Tocha Olímpica mostram a vontade da Austrália em tentar nestes Jogos Olímpicos a reconciliação com os aborígenes.