Roger Federer venceu neste domingo o Open da Austrália, ao bater na final o croata Marin Cilic em cinco sets. O suíço, atual número 2 do Mundo, já leva 20 títulos do Grand Slam conquistados ao longo da carreira e é o primeiro homem chegar às duas dezenas de majors.

1. Wimbledon 2003: dois anos antes o público do All England Club tinha ficado boquiaberto ao ver um jovem de 19 anos eliminar Pete Sampras, vencedor sete vezes em Wimbledon. Agora, Roger Federer atinge a primeira final da carreira em torneios do Grand Slam. Uma final improvável, diga-se: apesar de já ser uma relativa certeza no ténis mundial (chegou a Wimbledon como número 5 do Mundo), Federer nunca tinha conseguido superar os quartos de final de um major. Do outro lado está Mark Philippoussis, 48.º da hierarquia e um historial de várias operações ao joelho esquerdo que lhe ameaçaram a carreira. O tenista australiano Mark Philippoussis deixou pelo caminho o líder do ranking Andre Agassi e avançou a custo até à segunda e última final da carreira em Grand Slams, depois do Open dos Estados Unidos em 1999. Roger Federer, 21 anos, nega-lhe o conto de fadas com uma vitória em três sets.

2. Austrália 2004: depois das conquistas de Wimbledon e da Masters Cup no ano anterior, Roger Federer chega a Melbourne no 2.º posto do ranking ATP e como um dos principais favoritos à conquista do torneio. Na final tem de medir forças com o russo Marat Safin, que deixou pelo caminho o líder da hierarquia Andy Roddick e o vencedor de 2003 Andre Agassi. Fatigado por dois encontros consecutivos à melhor de cinco sets, Safin é arrasado por Federer pelos parciais de 7-6, 6-4 e 6-2. Com a vitória na Austrália, o tenista suíço ascende pela primeira vez na carreira à liderança do ranking mundial. Ainda não sabe, mas vai ficar por lá até ser destronado 4 anos e meio depois por um tal de Rafael Nadal.

3. Wimbledon 2004: um ano após ganhar na relva londrina o primeiro major, Roger Federer tem a oportunidade de revalidar o título. Andy Roddick é o último obstáculo pela frente. Dono de um serviço poderoso, o norte-americano vence o primeiro set (6-4) e põe o adversário em sentido. Ainda assim, Federer consegue levar a melhor nos três parciais seguintes (7-5, 7-6 e 6-4), voltar a inscrever o nome na galeria dos vencedores do All England Club e confirmar uma tendência que se agudiza ao longo das carreiras destes dois: que Federer raramente perde com Roddick. «Vou ter de começar a ganhar-lhe alguns jogos para que possam chamar a isto rivalidade», brincou o norte-americano no final. 21-3 a favor do suíço foi o saldo final no adeus de Andy Roddick ao circuito.

4. Estados Unidos 2004: o duríssimo encontro contra Andre Agassi nos quartos de final, resolvido em cinco sets, foi a única tempestade que Roger Federer apanhou em Flushing Meadows. A final, frente ao grande rival de início de carreira, o australiano Lleyton Hewitt, acaba por ser de sentido único e uma das mais fáceis da carreira do suíço: assunto resolvido em menos de duas horas com 3-0 e parciais de 6-0, 7-6 e 6-0. Federer conquista o terceiro Grand Slam numa só temporada, algo que nem Sampras, Agassi ou Lendl conseguiram no passado. O último tinha sido Mats Wilander em 1988. Mais: é o primeiro tenista da história a ganhar as primeiras quatro finais de torneios do Grand Slam em que participa.

5. Wimbledon 2005: depois de ter ficado pelas meias-finais nos dois primeiros Grand Slams do ano, Federer precisa de mostrar que continua a ser o alvo a abater na elite do ténis. E vai fazê-lo em Wimbledon. Pelo terceiro ano consecutivo e contra o adversário que venceu na final anterior, mas agora ainda com mais autoridade. Triunfo sobre Roddick por 6-2, 7-6 e 6-4, num encontro no qual se aproxima da perfeição, com 49 winners e apenas 12 erros não-forçados. «Tenho pena por ele, mas estive ao meu melhor nível», diz o suíço após erguer o terceiro troféu em Wimbledon e o 30.º da carreira: e apenas com 23 anos.

6. Estados Unidos 2005: frente a frente dois representantes de gerações distintas. Federer contra Agassi. Aos 35 anos, o tenista norte-americano chega à final depois de três encontros consecutivos disputados em cinco sets e reúne a preferência do público do Arhur Ashe Stadium, que quer ver o compatriota escrever um dos contos de fadas mais belos da história do desporto já perto do final da carreira. Depois de um set para cada lado, o tenista suíço leva a melhor no tie-break do terceiro parcial (depois de ter estado em desvantagem por 4-2) e consuma o triunfo com um 6-1 no quarto set. «Penso que o Roger é o melhor tenista que já enfrentei», disse Agassi após a única final que o opôs a Federer. Logo ele que teve tantas batalhas com Pete Sampras.

7. Austrália 2006: Federer chega a Melbourne Park poucos meses após uma lesão que o obrigou a falhar alguns torneios na reta final do ano anterior. Prova de que o problema ainda não está completamente debelado é a proteção elástica que usa no tornozelo direito durante todo o torneio. A caminhada até à final não é imaculada e Federer parece mais frágil do que noutras alturas, sendo posto verdadeiramente à prova por adversários como Tommy Haas e Nikolay Davydenko. Na final defronta o surpreendente Marcos Baghdatis, que chega aos antípodas no 54.º posto do ranking ATP. Depois de perder o primeiro set, Federer engata e leva a melhor nos seguintes por 7-5, 6-0 e 6-2. Os últimos três torneios do Grand Slam são dele.

8. Wimbledon 2006: o mundo do ténis assiste ao começo de uma das maiores rivalidades da história do desporto. Federer vs Nadal. Depois da final de Roland Garros, vencida pelo espanhol, os dois defrontam-se no mês seguinte no encontro decisivo da relva londrina. Será a quarta seguida para Federer no All England Club ou a primeira de Nadal fora da terra de Paris? O tenista suíço leva o primeiro set por 6-0, mas os dois seguintes só se resolvem no tie-break, com uma vitória para cada lado. No quarto parcial, Federer volta a subir o nível e levanta o quarto troféu consecutivo em Wimbledon com apenas um set perdido em todo o torneio.

9. Estados Unidos 2006: pelo terceiro ano consecutivo Roger Federer chega à final em Nova Iorque e Andy Roddick está de regresso ao derradeiro encontro de um major pouco mais de um ano depois de Wimbledon. O vencedor? O do costume. Vitória em quatro sets e a confirmação de que o suíço, apesar da ascensão de Rafael Nadal, continua a ser o alvo a abater. Pelo segundo ano, Federer fica com três dos quatro torneios do Grand Slam do calendário.

10. Austrália 2007: um ano após Bagdhatis, Federer defronta mais um adversário improvável no encontro decisivo. O chileno Fernando González, que arrasou Nadal pelo caminho. Só que na final tem pela frente Roger Federer, que se impõe em três sets e vence o torneio sem ceder qualquer parcial. É o 10.º título do Grand Slam da carreira do número 1 mundial, que está agora a quatro do recordista Pete Sampras.

11. Wimbledon 2007: tal como no ano anterior, Federer e Nadal repetem as finais em Roland Garros e no All England Club. O espanhol continua a ser o senhor do pó de tijolo e o suíço a mandar na relva. Mas desta vez não é tão fácil. Pela segunda vez na carreira (a primeira desde que venceu Pete Sampras aos 19 anos em 2001), Federer é forçado a jogar um quinto set em Wimbledon, mas prevalece e ergue o quinto troféu seguido em Londres, proeza só alcançada por Bjorn Borg, Lawrence Doherty e William Renshaw. Mas Nadal está cada vez mais próximo de acabar com o domínio do rival.

12. Estados Unidos 2007: Federer tem pela frente um jovem sérvio que escala mais de dez posições desde o início do ano para chegar a Flushing Meadows como número 3 do Mundo. Chama-se Novak Djokovic, tem 20 anos e está pela primeira vez na carreira na final de um major. O suíço vence em três sets apertados (7-6, 7-6 e 6-4) num encontro que poderia ter tido contornos bem diferentes: é que Djokovic não conseguiu converter sete (!) bolas de set, cinco no primeiro parcial e duas no segundo. Mas para a história fica mais um Grand Slam para Federer, o 12.º com selo deles nos últimos 18 disputados.

13. Estados Unidos 2008: pela primeira vez em quatro anos e meio, Roger Federer chega a um torneio do Grand Slam sem estar no topo do Mundo. Pouco depois do Open da Austrália é-lhe diagnosticada uma mononucleose, doença que já se manifestava durante o torneio em Melbourne. Apesar de ficar sem competir durante muito tempo, a quebra de rendimento é notória. Perde as finais de Roland Garros e de Wimbledon para Rafael Nadal e a liderança do ténis para o rival espanhol. Depois de uma época muitos furos abaixo do comum (até agosto só venceu o Estoril Open e o torneio de Halle), o Open dos Estados Unidos é encarado como uma espécie de salvação. Ainda que na quarta ronda seja forçado a jogar um encontro a cinco sets, Federer volta a exibir-se a um bom nível. Elimina Djokovic nas meias-finais e arrasa o britânico Andy Murray na final em três sets, pelos parciais de 6-2, 7-5 e 6-2. O recorde de Pete Sampras está agora à distância de apenas um Grand Slam.

14. Roland Garros 2009: três derrotas consecutivas com Rafael Nadal nos três anos anteriores impediram Roger Federer de atingir um objetivo de carreira: vencer todos os torneios do Grand Slam, algo que só cinco tenistas conseguiram antes dele. O afastamento surpreendente do espanhol na quarta ronda, aos pés de Robin Soderling, torna agora o sonho mais real. Mas não é fácil: o suíço tem uma caminhada com alguns sobressaltos. Na mesma ronda em que Nadal se despede do torneio, precisa de recuperar de uma desvantagem de dois sets a zero e, mais à frente, vence mais um duelo titânico com Juan Martin del Potro nas meias-finais. Na final frente ao carrasco do maior rival, o único percalço acaba por ser uma invasão do court protagonizada pelo célebre Jimmy Jump: Federer iguala Sampras com 14 Grand Slams e recebe o troféu das mãos de Andre Agassi. «Esta foi a minha maior vitória. Agora posso estar o resto da minha carreira sem pensar que nunca ganharia o Roland Garros.»

15. Wimbledon 2009: sem Rafael Nadal, que falha a defesa do título por lesão, Federer pode fazer o «três em um». Reconquistar Wimbledon, a liderança ATP e tornar-se no primeiro tenista masculino da história a atingir a marca dos 15 Grand Slams conquistados. Pela terceira vez, o adversário na final de Wimbledon é Andy Roddick. Será a quarta final de torneios do Grand Slam entre ambos e a mais dura de todas. Cinco sets, mais de quatro horas e 16-14 no derradeiro parcial, o mais longo da história em finais de majors. Em 77 jogos, Federer só por uma vez consegue quebrar o serviço do norte-americano e logo na mais importante de todas. Wimbledon, nº 1, recorde de Grand Slams: check.

16. Austrália 2010: um ano depois de ter chorado em plena Rod Laver Arena após a derrota com Rafael Nadal, Federer experimenta outro tipo de emoções. Vence o Open da Austrália e aplica uma lição (6-3, 6-4 e 7-6) a Andy Murray na final. «Posso chorar como o Roger. Mas é pena não conseguir jogar como ele», diz, emocionado, o tenista escocês, que terá de esperar mais dois anos para vencer o primeiro major da carreira.

17. Wimbledon 2012: há agora outro cavaleiro a imiscuir-se entre Roger Federer e Rafael Nadal. Novak Djokovic venceu três Grand Slams em 2011 e é agora o alvo a abater. Sem qualquer major conquistado no ano anterior, situação inédita desde que começou a ganhá-los em 2003, o suíço parece ter entrado na curva descendente da carreira. Os sinais deixados na primeira semana não são positivos. Salva-se de uma eliminação precoce na terceira ronda aos pés do francês Julien Benneteau, que chega a estar a vencer por dois sets a zero. Aos poucos, Federer afina o jogo e surge mais consistente na segunda semana do torneio. Nas meias-finais afasta Novak Djokovic, líder do ranking e vencedor da edição anterior de Wimbledon, e repete a receita no derradeiro encontro diante de Andy Murray. O tenista da casa ainda leva a melhor no primeiro parcial, mas perde os três seguintes. Federer vence em Wimbledon pela sétima vez na carreira e iguala os recordistas Pete Sampras e Ken Rensham. Mais: salta do terceiro para o primeiro lugar do ranking ATP. Serão 17 semanas lá em cima: as últimas até aos dias de hoje.

18. Austrália 2017: Roger Federer tem um ano de 2016 para esquecer. Logo a seguir ao Open da Austrália lesiona-se no joelho direito e é submetido a uma artroscopia. Nada de muito grave, não tivesse ela ficado mal curada, talvez por culpa de um regresso precipitado à competição. As prestações do tenista suíço são tão modestas que não ganha qualquer título ATP num ano pela primeira vez desde a viragem do século. Depois de Wimbledon, onde chega às meias-finais, Federer anuncia a decisão de dar por concluída a época, alegando precisar de mais tempo para se reabilitar completamente do problema no joelho. Regressa no Open da Austrália, afundado no 17.º lugar no ranking e muitas dúvidas por esclarecer: voltará o helvético a exibir-se a um bom nível? Num torneio no qual Andy Murray e Novak Djokovic ficam cedo pelo caminho, Federer avança com um misto de exibições sólidas e batalhas duras a cinco sets, como contra Kei Nishikori e Stan Wawrinka. Na final defronta Rafael Nadal, também ele a tentar voltar ao nível de outros tempos: oito anos depois e quando nada o fazia prever, os dois reeditam aquela que é por muitos considerada a maior rivalidade da história do ténis. Num duelo épico, Federer vence em cinco sets ao cabo de 3 horas e 38 minutos. Quatro anos e meio depois volta a ganhar um major.

19. Wimbledon 2017: depois de uma temporada de hard court com três títulos (Open da Austrália e Masters 1000 de Indian Wells e Miami), Roger Federer toma uma decisão inédita. Saltar os torneios de terra batida, incluindo o Roland Garros. O tenista suíço abdica de continuar a subir no ranking para não correr riscos de lesões e começar já a apontar para um inédito oitavo triunfo em Wimbledon. Antes de se apresentar na relva londrina, Federer compete em dois torneios nesta superfície: perde cedo em Estugarda e ganha em Halle. Mais importante: chega bem preparado a Wimbledon, e não perde qualquer set ao longo do torneio, que vence pela oitava vez. Na final bate Marin Cilic por 6-3, 6-1 e 6-4.

20. Austrália 2018: um ano depois do regresso triunfante aos courts após longa ausência por lesão, Federer entra no Open da Austrália com o estatuto de segundo cabeça-de-série, logo atrás de Rafael Nadal, que derrotou na final da edição anterior. O suíço avança na competição sem sobressaltos e atinge a final sem ceder qualquer set, tal como no 19.º título em Wimbledon. O adversário volta a ser Marin Cilic. O croata, que afastou Nadal nos quartos de final, dá luta e força o suíço a um quinto set. Ao cabo de mais de três horas de encontro, Federer ergue os braços. Pela primeira vez desde o Open dos Estados Unidos em 2008, o suíço defende com sucesso um major. São já 20 os títulos de Grand Slam conquistados na carreira, seis deles na Austrália. A lenda continua a crescer...