Sábado, dia 19 de Junho. O almoço é num restaurante português bem no centro da Cidade do Cabo. Uma mistura entre taberna tradicional e «pub» britânico. Há três televisões espalhadas pela sala, e todas elas estão a transmitir o Holanda-Japão. A dada altura, alguém pega no comando e muda de canal. Nos três aparelhos. O incrível acontece: durante mais de uma hora, o Mundial é completamente ignorado.

Nos ecrãs surge um estádio, mas a bola é agora oval. Surgem os primeiros acordes do hino sul-africano, e o som da sala aumenta consideravelmente. Há mesmo quem se atreva a cantar, embora o espaço esteja quase repleto. As vuvuzelas calam-se: vão jogar os «springboks».

A selecção sul-africana de râguebi conquistou o respeito de todos, neste país. Um ano após o fim do Apartheid sagrou-se campeã do mundo. É a actual detentora do título, de resto. Continua a ser adorada sobretudo pelos afrikaners (descendentes de holandeses, ingleses e franceses), é certo, e um olhar sobre a sala provava isso mesmo. Mas a paixão por esta equipa tem mudado aos poucos. O primeiro passo foi dado em 1995, com o título mundial conquistado em casa. O actual seleccionador, Peter de Villiers, até é negro. Jogada política ou não, o que é certo é que o maior orgulho do país, no que ao desporto diz respeito, são os «Springboks».

Durante uma hora e meia, sensivelmente, ninguém quis saber do Campeonato do Mundo. Pelo menos naquela sala. E nem sinal das vuvuzelas, que neste contexto não são permitidas. No final houve motivos para festejar, ainda que a exibição tenha sido fraca. Os «Springboks» venceram a Itália por 29-13, em Witbank.

«África minha, África nossa» é um espaço de opinião da autoria dos enviados-especiais Nuno Travassos e Sérgio Pereira, jornalistas do Maisfutebol, ao Mundial 2010. Siga-os no blog Ntatheli.