Alguns leitores aprovaram o que escrevi sobre a suspensão de Lisandro. Muitos desaprovaram. Outros partiram para o insulto, disparando sobre o pianista.
Para os primeiros não é preciso escrever mais.
Para os últimos também não. Fazem parte dos que observam o futebol com óculos da cor do seu clube. Estão ganhos para a causa da bandeira que defendem, mas obviamente perdidos para uma reflexão tranquila.
Restam os que desaprovam de uma forma serena, argumentando.
Esses merecem que desenvolva o tema.
A minha discordância com a Comissão Disciplinar da Liga baseia-se em três aspectos essenciais.
1. O lance está longe de ser inequívoco.
2. Lances como o de Lisandro e Yebda não começaram naquele jogo, acontecem em muitas partidas. Punir um e libertar os outros influencia a verdade desportiva. Repito.
3. Último ponto, o mais relevante. A intervenção da Comissão Disciplinar da Liga deve ser cuidadosa, reservada para aspectos realmente importantes. E o lance de Lisandro não é um deles. Quer dizer, não é mais importante do que dezenas de outros penalties e simulações.
Do meu ponto de vista, a Comissão Disciplinar deve agir apenas em momentos inequívocos, quando calar significaria pactuar com a mentira e/ou com agressões violentas.
A queda de Lisandro não é um momento inequívoco. Por um razão simples: já houve árbitros a assinalar grandes penalidades em lances assim, quando um adversário coloca o braço no peito do jogador da outra equipa, travando o movimento. Fizeram bem? Depende. Neste caso concreto acho que a grande penalidade é mal assinalada. Mas daí a culpar Lisandro vai uma grande distância, que a CD percorreu com inesperada leveza.
O erro maior foi de Pedro Proença. Não estamos a falar de um lance que se passou nas costas do árbitro. Pedro Proença viu. Não percebeu nada. Mas viu. Que lhe sucedeu? Depois disso já apitou dois jogos e este domingo está de volta aos grandes palcos, para o fundamental Leixões-Sporting. Alguém se preocupa? Ninguém, claro.
A CD, repito, deve reservar-se para lances acima de qualquer dúvida. Se este fosse o caso não precisaria de justificar tanto o que não tem justificação.
E que lances são esses? Agressões que escapam à equipa de arbitragem e colocam realmente em causa a integridade dos jogadores ofendidos. Actos indignos (cuspir no adversário, por exemplo), que, mais uma vez, não sejam vistos pelo árbitro. Jogadas em que um comportamento ilícito serviu para ganhar um desafio (mais uma vez dou o exemplo de Ronny, por ser o mais evidente dos últimos anos).
A Comissão Disciplinar foi muito além do evidente. Percebo que os adeptos do Benfica aplaudam e os do F.C. Porto lamentem. O meu ponto de vista, como pessoa isenta que gosta de futebol, é diferente: temo apenas que o futebol passe a ser decidido nos gabinetes em vez de acontecer nos relvados.
E temo também que castigar jogadores por comportamentos que não são mais do que duvidosos passe a ser norma. A suceder, isso prejudicará obviamente mais os que participam em partidas televisionadas.
Não me incomoda que isso suceda para castigar actos violentos ou indignos. Mas usar os ângulos televisivos para teorizar sobre quedas, como fez a CD, é claramente excessivo.
P.S. : Para que os leitores que me insultam, indignados, não reclamem que os ignoro neste texto gostaria de propor prisão perpétua para um rapaz do Blackburn Rovers. Vejam o vídeo e digam-me se não se justifica punir com severidade semelhante comportamento. Agora a sério: se querem argumentar, esforcem-se um pouco mais. Insultar é fácil. E pode ser punido pela CD, cuidado.