Tenho para mim, embora possa partilhá-lo, que o problema dos árbitros não está propriamente em marcar bem ou mal uma grande penalidade. Um livre, um fora-de-jogo ou uma agressão. É mais grave do que isso: é um problema sociológico.

O problema dos árbitros, digo eu, está na autoridade.

Lidamos mal com a autoridade. Olhamos para o árbitro e pensamos que lá vem a bófia.

O princípio é basicamente o mesmo de quando vemos um polícia: dizemos mal da nossa vida e esperamos que passe praticamente sem se fazer notar.

O que é difícil, claro. A autoridade faz sempre notar-se. Geralmente anda de uniforme, mão no ar, apito na boca e traz um jeito de correr a fazer lembrar o Forrest Gump.

Mais tarde ou mais cedo, inevitavelmente, manda-nos parar e pede-nos a identificação.

Nessa altura preparamo-nos para o pior.

«O condutor manuseava um aparelho de comunicação móvel enquanto efectuava a condução», por exemplo. «O jogador obstruiu a progressão do adversário com a colocação do membro superior na zona lombar».

A autoridade tem dificuldades em simplificar o português.

Nós tentamos argumentar, mas a autoridade mantém-se alheia: não olha. Acabámos por receber uma advertência escrita.

O agente entrega-nos o comprovativo com erros ortográficos, o árbitro nem isso.

Depois pagamos o castigo: dinheiro ou suspensão. Por vezes ambas.

Claro que de vez em quando há a autoridade boa: basicamente é o polícia que nos safa as multas.

Na arbitragem é Pedro Henriques. Fecha os olhos a algumas faltas e manda seguir. Para os outros agentes não cumpre a lei. Para nós é um porreiraço.

O polícia bom é o único que não é prepotente e até o uniforme lhe fica bem.

Mas é cada vez mais difícil encontrá-lo: o polícia bom nas ruas e o Pedro Henriques nos relvados.

A solução é fazermo-nos à vida e esperar não termos de nos cruzar muitas vezes com a autoridade.

Mas é inevitável, vamos cruzar-nos. Basta prevaricar uma vez, na mais inocente das contra-ordenações, e a autoridade está lá.

Eu sei que é para o nosso bem, mas não me peçam para gostar dela. A autoridade até pode tomar todas as decisões correctas, nunca vai conseguir agradar.

P.S. Pergunta o leitor: mas afinal o que tem o Benfica a ver com este problema da arbitragem? Rigorosamente nada. O que este ano é uma novidade. Acho que merece ser título.

«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreverá aqui todas as quintas-feiras