Acho que há um certo encanto no exagero. Em todo o tipo de exagero.

Não quero dramatizar, leitor, mas gosto do dramatismo.

O excesso, sobretudo visto da parte de fora, chega a ser comovente. O mundo ganha cor e torna-se um local mais agradável.

Nos últimos dias os excessos do mundo - do mundo português e do mundo internacional - concentram-se num homem: Ronaldo.

Bateu os limites do razoável na transferência mais cara da história do futebol e desde então tornou-se uma vítima do exagero.

Exagero financeiro, antes de mais, pelos valores que o negócio envolve e continuará a envolver nos próximos cinco anos.

Mas exagero mediático, acima de tudo.

Ronaldo está em todos os jornais, em todas as televisões e em todas as rádios. Está lá o tempo todo.

Um excesso, claro. Para os mais ponderados será porventura um excesso intolerável.

Para mim é um excesso como tantos outros, encantador.

Agitou o futebol com a força do exagero e devolveu a bola ao espaço que lhe pertence: a fronteira do irracional.

A história do português é de resto feita de exageros.

Quem olha de fora vê um rapaz muito próximo dos limites, que passa pela vida em excesso de velocidade. Os últimos dias não são por isso propriamente uma novidade, são apenas mais um exagero.

Para Ronaldo é acima de tudo um exagero muito conveniente.

No final de uma época bem mais discreta do que anterior, um exagero deste tamanho, do tamanho do mundo, era o melhor que podia pedir. Num instante recolocou-o no topo da pirâmide.

Acho até que a capa do «Olé» no dia a seguir à confirmação da transferência não foi inocente.

Escreveu o jornal argentino que Ronaldo era o mais caro, sim, mas o segundo melhor do mundo. Como que a lembrar que ainda há Lionel Messi, obviamente.

Há, sim senhor. Mas agora há também Ronaldo. Os excessos do verão devolveram-no ao topo e relançaram-no na corrida pelo prémio de melhor do mundo.

Há mais luta, por isso.

Do que ambos fizerem na segunda metade do ano vai decidir-se o prémio da FIFA.

Sem esquecer, é bom lembrar, que até lá vai saber-se quem marcará, e quem não marcará, presença no Mundial 2010.

Seguro, seguro, pelo menos para este que vos escreve com tanto carinho, é que em quinze dias apenas, com muitos excessos pelo meio, Ronaldo recuperou a auréola perdida para Messi na primeira metade da época.

Um exagero? Sem dúvida. Mas o futebol alimenta-se de exageros.

Por isso é que é encantador.

«Box-to-box» é um espaço de opinião da autoria de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui regularmente