«Marco Silva tem contrato até ao final da época 2018/19, é um excelente treinador e jovem, que vive a sua primeira experiência num clube com a dimensão do Sporting. Foram, aliás, estas as características que me levaram a fazer esta aposta e que me fazem mantê-la, para um futuro largo, com a mesma convicção inicial de que, juntos, iremos dar muitas alegrias aos sportinguistas»

Comunicado de Bruno de Carvalho a 7 de fevereiro de 2015, quando decretou o fim do período de ‘blackout’ que vigorava no Sporting.

Este texto não pretende ser um veículo de críticas ao presidente leonino no processo de afastamento do treinador. Já muito se escreveu sobre o assunto e acredito que a história será longa, mais longa até que as 400 páginas da nota de culpa entregue a Marco Silva.

O que me importa, neste processo como outros, é enfatizar a importância dos jornalistas desportivos no esclarecimento de dúvidas que vão acompanhando os adeptos de futebol.

Cada clube segue a sua estratégia de comunicação e tem legitimidade para o fazer. Porém, banalizou-se a crítica à imprensa, desvalorizando o papel que esta desempenha numa atualidade marcada por rumores e circuitos fechados.

As 400 páginas do processo de Marco Silva provam que a relação deteriorou-se há vários meses. Não era invenção de jornalistas.

A escaldante mudança de Jorge Jesus para o Sporting foi anunciada em primeira mão por Carlos Nogueira, do Diário de Notícias, e teve como recompensa uma onda de insultos e sorrisos jocosos. Confirmou-se em poucas horas. Primeiro por todos os jornais. Depois pelos clubes.

Marçal a 9 de abril: «Não sei de nada»

Bueno a 6 de maio: «Em breve irei definir o meu futuro»


Este é o discurso com que os adeptos se deparam. Por essa altura já se escrevia que Marçal seria reforço do Benfica e que Alberto Bueno estava comprometido com o FC Porto.

Sendo difícil garantir que as coisas não foram tratadas do dia para a noite, é ponto assente que a informação partiu de jornalistas e não de plataformas oficiais.

Aliás, o Benfica é caso de estudo. São seis reforços assegurados nas últimas semanas sem uma linha de confirmação – ou desmentidos, essa prática oportuna e curiosa – por parte dos encarnados.

O adepto informado já sabe que Ederson, Diego Lopes, Hassan, Marçal, Pelé e Dálcio (este ficará mais uma época no Belenenses) estão garantidos pelo clube da Luz. Se acreditar no que lê, naturalmente.

Numa altura em que se celebra o 15º aniversário do Maisfutebol, tendo eu dez anos de casa, destaco o rigor com que abordamos essas temáticas.

O advento das redes sociais, em contraste com a clausura e dispersão de poderes nos clubes, motivou o surgimento de dezenas, centenas de rumores diários.

Qualquer adepto pode ir ao Twitter, pesquisar por Benfica e ver que um jornal guatemalteco coloca o maior talento local a caminho da Luz.

O Maisfutebol resiste à tentação de escrever por fontes alheias e de fiabilidade desconhecida. Isso não acontece nos outros meios on-line, onde vão proliferando termos como «na rota», «na mira», «na lista», seguidos de um «de acordo com».

Os jornais – aqui sim, uma crítica à concorrência nas redes - não se podem demitir de responsabilidades por atribuir a informação a outros.

A grande tarefa que se coloca perante nós - uma classe sacrificada por cortes, por perdas de referências e natural decréscimo de qualidade – passa por filtrar dados que chegam a um ritmo incessante e apresentar conteúdos de qualidade. É tão importante o que não escrevemos como aquilo que entendemos ter fundamento para avançar.

É esse o desafio que o Maisfutebol enfrenta, dia após dia. Primar pela qualidade, sabendo que perderá algumas notícias pelo caminho.

Há bons e maus jornalistas, como bons e maus polícias, bons ou mais professores. Mas é a dignidade que nos motiva, alicerçada num código de ética. E continuaremos a dar, acredito, mais informações relevantes para os adeptos que os veículos institucionais dos clubes.

Estamos, ainda assim, sujeitos ao erro. Consequência natural do trabalho. Temos de lidar com as motivações ocultas das mais variadas fontes. E aqui deixo um exemplo, chegando ao FC Porto.

Um FC Porto, saliente-se, que já chegou a acordo com Sérgio Oliveira, Alberto Bueno e André André. O último assinou contrato recentemente, garantem os jornais.

A conversa já vai longa e termina com um 'mea culpa', revelando a forma como algumas notícias se processam.

Em junho de 2013, o empresário de Otamendi, um tal Martín Sendoa, garantia-me que o central estava a caminho do At. Madrid por 15 milhões de euros.

O senhor Sendoa, com entusiasmo, dizia até que o acordo estava fechado e dependia apenas de assinaturas. Uma bomba, vinda do nada. Estranhei, descontei o que seria o interesse do agente e escrevi apenas a existência de contactos entre as partes.

O Maisfutebol, a reboque do empresário de Otamendi e a par de outros jornais, divulgou erradamente que a cláusula de rescisão se cifrava em 15 milhões de euros. E o FC Porto, numa reação veemente, criticou-nos, lembrando que a cláusula era de 30. Pelo caminho, negou a existência de negociações ou contactos.

Fomos enganados pelo senhor Sendoa e falhámos, é certo, mas sem qualquer motivação para tal. Porém, a cláusula de rescisão não devia ter servido de arma de arremesso. Meses mais tarde, o argentino foi vendido ao Valência por 12 milhões, podendo chegar aos 15. Não aos 30.

Agora, parto de férias e vou ali inventar uma notícia. Foi para isso que estudamos, é esse o legado que pretendemos deixar, o espírito que pretendemos incutir no nossos filhos. Alguém acredita? Penso que não.

Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores, jogadores e restantes agentes desportivos. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt)