«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.         

O clássico foi empolgante, mas não particularmente bem jogado, pelo menos para quem não mede isso pelo número de remates e muito menos pelos «sprints» com a bola nos pés. Mas talvez fosse ingénuo esperar mais, dada a importância do jogo. Houve vertigem, acima de tudo, e também por isso o Benfica sentiu-se mais confortável e foi melhor.

O FC Porto não rentabilizou a vantagem moral que parecia trazer, ainda que tivesse desperdiçado a oportunidade de entrar na Luz como líder, e o Benfica chegou cedo à vantagem, aproveitando sagazmente uma transição rápida – lá está a vertigem – que dá origem ao penálti.

Aguerrido, e asfixiante na reação à perda, o Benfica não deixou o FC Porto respirar nos primeiros minutos. E mesmo depois, quando a equipa de Nuno Espírito Santo conseguiu estabilizar um pouco mais o seu jogo, a organização defensiva do Benfica mostrou enorme coesão, com as linhas bem próximas e subidas no terreno.

Organização defensiva do Benfica, com a última linha subida no terreno e a linha intermédia muito próxima. Referência ainda para o posicionamento dos três médios do FC Porto, todos atrás da primeira linha defensiva do adversário
Pizzi e Samaris praticamente colados aos centrais, mas uma vez mais não há nenhum médio do FC Porto nas costas dos avançados do Benfica

Na primeira parte o FC Porto acaba por criar perigo apenas de livre direto - Brahimi, para defesa de Ederson -,  e é a partir de uma perda de bola de Pizzi a meio-campo que chega ao golo do empate, apontado por Maxi Pereira no início da segunda parte.

Lance que dá origem ao empate do FC Porto: este é o primeiro momento em que Pizzi tem oportunidade de soltar a bola e lançar Rafa para o contra-ataque (por fora ou no espaço entre central e lateral)...
...Pizzi acaba por colocar a bola por cima de Corona, e depois tem um segundo momento para soltar a bola. Rafa volta a ser hipótese, ou então um toque atrasado para Eliseu. Pizzi opta por tocar de cabeça na direção da linha lateral, onde acaba depois desarmado.

Até a jogada em que Ederson nega o golo a Soares é uma transição, o que atesta a forma como o jogo andou sempre nessa vertigem em que o Benfica se sente mais confortável, por conseguir abraçá-la sem perder o equilíbrio. Mais audaz, apesar da vantagem pontual, o Benfica assumiu ascendente no último terço do encontro, perante um FC Porto mais inseguro nas transições e que, a dada altura, aceitou a ideia de segurar o empate.

A equipa de Nuno Espírito Santo sentiu dificuldades para gerir o jogo como tanto gosta, até porque a aparente superioridade numérica na zona central perdeu-se na teoria, com André André particularmente atento a Pizzi e Óliver Torres, apesar da exibição positiva, sem conseguir destacar-se perante uma das melhores exibições de Samaris de águia ao peito.

O ataque do FC Porto pareceu sempre dependente das iniciativas de Brahimi, e junto à linha, mas raras foram também as vezes em que o Benfica conseguiu criar desequilíbrios pelo corredor central, ainda que Rafa e Salvio tenham «entrado mais no campo» do que Brahimi e Corona.

Foi um clássico jogado por fora, essencialmente, e nesta perspetiva a diferença fez-se também pela qualidade ofensiva que Nélson Semedo ofereceu uma vez mais, fazendo do corredor direito um elevador.

Ataque posicional do Benfica, com Samaris a recuar para uma saída a três, permitindo que Nélson Semedo se adiante no terreno pelo lado direito. Brahimi está, num primeiro momento, focado em fechar a linha de passe para Salvio, e por isso a bola entra facilmente em Semedo. Destaque ainda para o posicionamento de André André, muito atento à movimentação de Pizzi, sobretudo na 1ª parte.

Neste sobe e desce o Benfica foi melhor, mas não venceu. O FC Porto acabou a festejar o empate, e por mais injusto que isso seja só lá para o final de maio será possível concluir se Nuno Espírito Santo foi astuto ou temeroso.