«Livre de Letra» é o novo espaço de opinião de Rui Loura, editor-geral do Maisfutebol.

Os dicionários definem «bruma» como um «nevoeiro denso» ou um «nevoeiro do mar». Em sentido figurado, pode significar «mistério» ou «incerteza».

Nem de propósito; parece incerto o futuro de Armindo Tué Na Bangna – Bruma no mundo do futebol, nascido em Bissau há 28 anos, junto às águas do Atlântico – na seleção nacional portuguesa.

E não deixa de ser algo misterioso que o excelente momento de forma do avançado do Sporting de Braga não seja suficiente para entrar na lista de Roberto Martínez.

É verdade que, tal como explica o selecionador nacional, Portugal tem a felicidade de contar com um lote alargado de grandes talentos. Do meio-campo para a frente, então, Roberto Martínez tem mesmo à disposição opções capazes de fazer inveja a muitos selecionadores.

Todos sabemos que a visão romântica de «jogador está em grande forma, vai à seleção» está fora de moda. Os selecionadores – não só em Portugal – não abdicam de ter um grupo da sua máxima confiança, um «plantel» base, um núcleo duro que lhes garanta várias coisas: qualidade, estabilidade, continuidade, automatismos, identidade e, tanto quanto possível, tranquilidade.

Não é fácil trabalhar ideias e processos de jogo em poucos dias – o período que as seleções, normalmente, têm para treinar antes de cada jogo. Os estágios antes das fases finais são exceção.

Isso torna mais complicado integrar novos jogadores. A disposição para chamar um elemento sobre quem não se tenha o máximo de informações é reduzida.

Um jogador entra na seleção se for, sem dúvida, melhor do que os que são habitualmente chamados ou se houver baixas que seja necessário colmatar. Em caso de igualdade ou de dúvida, os que já fazem parte do grupo têm prioridade.

Roberto Martínez tem, como todos os treinadores, as suas ideias e os jogadores que entende que nelas encaixam melhor. Tem jogadores para posições específicas e alternativas em carteira para o caso de algum deles faltar. Outros, por muito valor que tenham e demonstrem, vão ficando de fora.

A situação não é nova. Nem exclusivamente portuguesa. Há uns anos, Gianfranco Zola abdicou de ir à seleção italiana depois de ser preterido na convocatória para o Mundial 98, quando estava nos seus melhores anos no Chelsea. Mas a Itália tinha Del Piero e Roberto Baggio…

Também não é provável que o selecionador venha a fazer grandes «experiências» depois de garantir o apuramento para o próximo campeonato da Europa. Martínez acredita que a perfeição se alcança repetindo, que os processos se assimilam ganhando.

Ou seja, nada melhor do que vencer todos os jogos no apuramento. Já o fez, de resto, com a Bélgica, a caminho do último Europeu. Era número um do ranking da FIFA. Não resultou em títulos.

Voltemos a Bruma: nessa lógica de jogadores por posição específica, com quem competiria o avançado do Sporting de Braga? Com Rafael Leão, provavelmente. Com Pedro Neto, eventualmente. Ele não é só extremo; é avançado capaz de criar ocasiões de golo e de os marcar.

Bruma faz parte daquele grupo de jogadores que estão a bater à porta da seleção. Falta saber se, mesmo mantendo o nível exibicional e a produtividade deste início de época, verá essa porta abrir-se. Por muitos balões que encha, mesmo fazendo o «golo da semana» na Liga dos Campeões.

Ou, por outra, se concretiza o sonho assumido de voltar à seleção ou se fica perdido pelo caminho.