«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».
Não sou um sentimental. Prefiro desvendar um mistério soturno a salivar com a crónica de um beijo; gosto mais de me perder no escuro dos Radiohead do que nas melodias doces dos Beatles; bloqueio com o primarismo das comédias de Hollywood, por oposição ao gigantismo irresistível do Game of Thrones.
Respeito o longo reinado de Pinto da Costa, e a capacidade sobre-humana de elevar o FC Porto a maior força desportiva nacional, mas afirmo-me partidário de análises objetivas ao presente. Pelo respeito, lá está, que todos os leitores do Maisfutebol me merecem.
Na inexistência do contraditório, de entrevistas justas, da possibilidade de perguntar e escutar o presidente do FC Porto num correto exercício de Jornalismo, resta-me sublinhar tudo o que têm sido os últimos quatro anos do clube. Particularmente na desastrada arte de despedir e contratar treinador.
Recordemos o que foi a apresentação de Fonseca, Lopetegui, Peseiro e Nuno, os homens do título – neste texto, claro -, antes de chegarmos ao etc.
Pinto da Costa no dia 1 de Paulo Fonseca:
«Não é aposta arriscada, é uma aposta consciente. Tem 40 anos, pode ser visto como um jovem mas já é uma pessoa madura. Tem uma carreira curta mas não conheço nenhum que tenha levado uma equipa como o Paços de Ferreira à Europa.»
«É um treinador na linha dos grandes treinadores do FC Porto. Foi a nossa primeira opção.»
Pinto da Costa no dia 1 de Julen Lopetegui:
«É com todo o prazer que vos apresento o novo treinador, que creio que não precisará de apresentações devido à sua carreira vitoriosa em Espanha e em quem depositamos a máxima confiança. Daí o facto de termos feito um contrato de três anos, porque queremos construir uma equipa sólida e que nos dê garantias de voltarmos a ser o que temos sido.»
«Quando o contactei disse-lhe que era a primeira, a segunda e a terceira opção, e não lhe dei margem para recusar.»
Pinto da Costa no dia 1 de José Peseiro:
«Transmito aqui em meu nome e da administração uma confiança total e, como sabe, uma unanimidade total na sua escolha. O Peseiro foi a minha primeira opção. O Sérgio Conceição nunca foi contactado por ninguém. Falei com o José Peseiro e perguntei-lhe se estava preparado. Disse-me que sim e que vinha sem medo. É treinador para ano e meio, mesmo que não seja campeão. E espero que seja para muitos mais.»
Pinto da Costa no dia 1 de Nuno:
«Quando a administração decidiu, com acordo total, que a passagem de Peseiro tinha terminado, ficou logo assente que Nuno Espírito Santo seria a nossa prioridade. Telefonei-lhe logo no dia seguinte. Não há nenhum treinador que possa dizer que foi contactado a não ser o Nuno Espírito Santo.»
«O que nos leva a escolher um treinador é confiar na sua capacidade, o seu poder de liderança e a sua capacidade para fazer evoluir os jogadores. Se eu não acreditasse, ele não estaria aqui, nem eu.»
Não é difícil adivinhar o discurso do dirigente na apresentação do próximo treinador. Seja ele Sérgio Conceição ou outro qualquer. Pinto da Costa vai garantir que o homem foi a primeira opção para conduzir a equipa técnica do FC Porto e que a confiança nos seus predicados é total.
Enquanto isso, o decano dirigente continuará no trono, imune a consequências e incapaz de assumir a desgraçada política desportiva dos últimos anos. Sem Oposição, sem discutir publicamente os seus planos para o clube, sem dar uma explicação aos sócios sobre a queda do Futebol Clube do Porto no precipício das más opções.
Opções tomadas sempre pelo mesmo homem.
«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».