Pawel Labrinski é seguramente uma das maiores promessas do futebol europeu e um dos melhores exemplos de um 10 moderno, que tanto pode jogar a 9 e meio como ser um 8 com projeção ofensiva, rompendo entre linhas. É de sublinhar o seu entendimento com Levon Mazhagaryian, extremo de origem arménia, que joga pela seleção azeri desde os escalões mais jovens, que não raras vezes deriva para médio interior, revelando-se muito forte nos movimentos de basculação. Aliás, neste arranque de época, ambos têm sido o abono de família do Widzew Gdynia, que aposta forte na subida ao primeiro escalão do futebol polaco.

Apesar da juventude dos seus 20 anos, Labrinski tem tudo para, em dois ou três anos, afirmar-se na Bundesliga ou na Premier League como um estratega de topo no futebol europeu.

Na lista de promessas podemos facilmente incluir ainda dois jovens pontas-de-lança: o nigeriano Ekotu Ofori-Prince, mais uma pérola da academia Abuja Youth Stars, um talento com todo o perfume do futebol africano, e, claro, Ivan Grupic, goleador nato, herdeiro da escola dos Balcãs e grande esperança na futura frente de ataque da seleção principal da Macedónia.

Para a defesa, destacaria, naturalmente, Friedrich Stüssl, o central da moda nas divisões inferiores do futebol austríaco, um autêntico «patrão», que tem uma experiência notável para um atleta de 22 anos.

Estranho que um 10 como Labrinski ou um central como Stüssl tenham passado ao lado dos radares de FC Porto, Benfica e Sporting.

O quê, caro adepto? Não os conhece?!

Pois claro que não. Labrinki e Stüssl não existem (tenho pena pelo Stüssl, porque tem um nome particularmente bom). Podem procurar dados no Transfermarkt, vídeos no Youtube, etc… Nada. Nada sobre estes dois craques. Tal como não existem Mazhagaryian, Ofori-Prince, Grupic... Sequer alguma vez ouvi falar do Widzew Gdynia ou da Abuja Youth Stars. Inventei tudo agora mesmo.

Inventei, mas tudo é verosímil, não? É-o porque vivemos na era dos Football Manager, dos vídeos de Youtube, dos milhares de blogs sobre deteção de talentos, dos dois ou três minutos olhados de soslaio na internet, que nos permitem sem dificuldade chegar a conclusões categóricas à primeira vista. É-o porque vivemos no tempo da peneira digital, onde escasseia o tempo para ver uma mão cheia de jogos de modo a «tirar a pinta» a determinado jogador.

Um qualquer rapaz letão pode viver numa ermida nos arredores de Riga, que se acabar de fazer um pontapé de bicicleta no sintético durante o treino e o momento tiver sido filmado já mo apresentam como o novo «Maradona do Báltico».

Mas notem bem: há um trabalho de observação rigoroso, com critério e feito com exaustão, que é feito por técnicos nos clubes e também por jornalistas dedicados, que cumprem uma função que, mais do que útil, é fundamental.

Conheço alguns bons exemplos de gente que cava fundo e peneira como quem fazia no Velho Oeste à procura da mais valiosa pepita de ouro. Um trabalho de sapa, em que, ao contrário do Velho Oeste, não se fica rico do dia para a noite, porque o que se ganha em troca é conforto meritório de poder dizer «eu avisei» quando a tal estrela aparecer no firmamento.

No entanto, misturados entre os poucos especialistas a sério, há uma profusão cada vez maior de analistas instantâneos, que não conseguem alinhar a equipa do Rio Ave de 1 a 11, mas que, tendo aparentemente uma base de dados na sua memória interna, apontam sem dificuldade quatro, cinco, seis craques recônditos que atuam na divisão mais obscura do país mais distante.

É portanto difícil peneirar os craques da observação. E ainda assim há formas de o fazer, bem simples até. Como apanhar o sábio interlocutor desprevenido e perguntar: «O que achas daquele miúdo polaco, o Pawel Labrinski?»

Tudo o que não for um sobreolho franzido seguido de um sonoro «quem?!» não passa neste modesto crivo.

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«Geraldinos & Arquibaldos» é um espaço de crónica quinzenal da autoria do jornalista Sérgio Pires. O título é inspirado na designação dada pelo jornalista e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, que distinguia os adeptos do Maracanã entre o povo da geral e a burguesia da arquibancada.