Não tinha em mente escrever sobre a jornada que acabou nesta segunda-feira, mas face ao que aconteceu era impossível não fazer no mínimo uma breve análise. Ao fim de ano e meio nenhum dos três grandes ganhou o seu jogo. Um registo anormal, mas sinal de que esta Liga, se já tinha tudo para ser competitiva e emocionante, também nos vai surpreender.

Na Luz, os problemas para Rui Vitória aumentam. Mas, em Alvalade e no Dragão, Jesus e Lopetegui viram o sinal amarelo aparecer. Na semana que aí vem para os grandes, antes da paragem da Liga, os resultados obtidos serão importantes para treinadores e clubes.

Sem dúvida, notas positivas para Jorge Simão e Ivo Vieira, pelo comportamento das suas equipas. Mas o destaque maior vai para Lito Vidigal e o seu Arouca. O líder apresentou-se de forma organizada e os problemas que criou ao actual campeão nacional demonstram qualidade no trabalho.

Em início de temporada, este artigo dirige-se a alguns jovens jogadores da nossa Liga e também àqueles que, por uma razão ou outra, a ela chegam tardiamente. Comecemos por aqueles jogadores que, com um percurso entre a II liga e o CNS, têm oportunidade de estrear-se na competição principal.

Os nomes que vou referir são apenas um exemplo, outros haverá seguramente. A qualidade existe nas divisões inferiores mas obriga a observações e à procura de valores. Infelizmente, olho para muitas das equipas da competição profissional e vejo que a aposta no jogador português não é a que gostaria de ver nos clubes portugueses.

Existem jovens à espera de oportunidade e de serem aposta. É certo que o filtro é apertado mas será que não vale a pena apostar no jogador português? Claro que vale.

Em Paços de Ferreira, Marco Baixinho, com 26 anos, e João Góis, com 25, são duas destas situações. Marco foi orientado pelo actual treinador do Paços, Jorge Simão, durante a maior parte da temporada passada, no Mafra. O conhecimento existente por parte do técnico fez surgir a oportunidade e acredito que tenha sido decisivo na passagem do CNS para a I Liga.

João Góis veio do Chaves, que lutou até a última jornada pela subida ao escalão principal. Não a conseguiu pelo clube flaviense, mas mesmo assim está na primeira Liga. Porventura estes jogadores pensaram que o seu tempo tinha passado mas, felizmente para eles e para o futebol português, a oportunidade surgiu.

Fico feliz por ver situações destas, porque também eu vim da II Divisão e sei a qualidade que existe por lá. Uns são descobertos, mas muitos outros fazem a sua carreira sem atingirem a liga principal.

André Sousa do Belenenses, que veio do Acadêmico de Viseu, Hélder Tavares do Tondela e Luisinho do Boavista, que também chegou do Académico de Viseu, todos com 25 anos, estão em época de estreia na primeira Liga.

Ruca do Vitória de Setúbal, proveniente do Mafra (CNS), é outro que se estreia, com menos um ano que os anteriores. Deixo para último Ruben Andrade que, aos 33 anos, viu ser concretizado um dos objectivos de carreira: jogar pelo seu clube de coração na primeira Liga.

Este médio, com uma ligação ininterrupta de 16 anos ao União da Madeira, viveu todas as dificuldades do clube ao longo dos anos, entre a II B e a II Liga e viu a subida ser uma realidade. No último jogo, da época passada, no campo do Oriental, capitaneou, marcou e festejou a subida. Este ano lá está, no onze da equipa e a viver os momentos por que sempre ansiou.

A verdade é que estes jogadores chegaram e, apesar da diferença entre escalões, impuseram a sua qualidade e são neste momento opções das suas equipas. Em relação aos jovens que estão a surgir na liga principal, são vários e revelam qualidade.

Dos mais novos, destaque para Diogo Jota, ainda júnior do Paços de Ferreira. O médio de 18 anos estreou-se no ano passado e, neste, volta a estar nas opções e a ser uma solução para o técnico. Andrezinho, um médio de 20 anos, é outro dos jovens do Paços que Jorge Simão tem a sua disposição. Estreou-se na época passada com pouca utilização e este ano parte disposto a afirmar-se. A forma como se apresentou em Alvalade revela isso.

Nélson Monte, do Rio Ave, foi titular nestes dois primeiros jogos. O central de 20 anos, que se estreou no ano passado, parte na frente agora e a titularidade dada por Pedro Martins revela confiança nas suas qualidades.


Dálcio foi lançado na época passada, por Lito Vidigal, e fez 19 jogos. Face à irreverência dos seus 19 anos e à qualidade que apresenta espera-se uma evolução progressiva.

Nélson Semedo foi aposta de Rui Vitória e já se percebeu que vai ser difícil sair da equipa. A confiança nas suas capacidades e a forma tranquila como está em jogo são sinais positivos para a afirmação.

Em Guimarães, João Vigário, de 19 anos, é das últimas apostas. O extremo/avançado estreou-se com uns minutos nos dois primeiros jogos.


Em Alvalade, Gelson Martins, de 20 anos é o último da formação a subir. Jesus tem-lhe dado algum tempo, as suas entradas entusiasmam e a resposta está a ser positiva. Carlos Mané já teve a estreia na época passada e vamos ver se nesta terá a continuidade. Para já tem sido utilizado a espaços - será esta a época de afirmação?

Ivo Rodrigues de 20 anos, e Goncalo Paciência de 21, foram emprestados pelo FC Porto ao Arouca e Acadêmica, respectivamente, e percorrem um caminho. Importa jogar e ter utilização que permita perceber se a oportunidade surge no clube de origem.

É certo que uns vão afirmar-se mais rapidamente do que outros, seja pela qualidade que demonstram, pelo contexto em que estão envolvidos, ou pela aposta consistente dos seus treinadores. O erro vai fazer parte do processo - e espero que seja compreendido como fazendo parte da sua evolução e crescimento por parte de quem os dirige.

No fundo, estes nomes revelam uma aposta. Outras que surjam: o que se pretende é que se mantenha a evolução de cada um, de forma sustentada e progressiva.