O Benfica está desde o início da época a tentar desestabilizar Jorge Jesus; e este, por sua vez, tem respondido não só com excelentes resultados na Liga – que será o objetivo principal para ambos os emblemas –, mas vingando-se com o devolver de pressão para cima de Rui Vitória, que à partida para o início da época nada tinha a ver com isto a não ser pelo facto de ter sido escolhido para seu sucessor na Luz.

Se a pressão sobre Jesus pouco tem tido efeito, a verdade é que o treinador do Sporting terá sentido alguns resultados da que colocou sobre Vitória logo no arranque da época, na Supertaça. Não tinha conseguido que o rival saísse da toca até aqui no confronto de palavras, mas sentiu que o tinha condicionado uma ou duas vezes e que este – pela forma também pouco à vontade se mexia nas conferências – seria o elo mais fraco em que se focar. Tem insistido, e levou à explosão, no meu ver ainda controlada, do adversário antes do embate dos encarnados com o Marítimo.

Rui Vitória achou (para mim, bem) que era a altura certa para dizer basta, lembrando Jesus dos seus próprios fracassos no cargo que ele agoraocupa. Insinuou também que o técnico dos leões estava obcecado com o Benfica. Na verdade, acho que é um pouco mais do que isso: Jesus está obcecado sim, com Rui Vitória porque sente ali um rasto de sangue e atira-se constantemente sobre a presa. Esse rasto será, obviamente, o atraso pontual e a diferença em relação ao que fez no comando da mesma equipa, até aqui, no ano passado.

Além de si próprio, Jesus está também obcecado com Rui Vitória (e eventualmente apenas virará agulhas, ou repartirá atenção, se sentir que o novo treinador do FC Porto ameaça o seu reinado).

Esta obsessão – talvez uma palavra demasiado forte, mas a utilizada por Vitória –  é obviamente legítima. A pressão que coloca sobre o rival também o é, tal como a resposta do mesmo ou, sempre que entender, uma não-resposta.

No entanto, na conferência de imprensa do Bonfim, Jesus ultrapassou os limites.

É verdade que é influenciado por uma pergunta que não deveria ter sido feitao papel do jornalista nunca é de influenciar a realidade que depois retrata –, mas, em primeiro lugar, tem a liberdade de se recusar a responder – como em outras situações no passado, no caso de Carrillo, por exemplo – ou, se decide fazê-lo, deve manter o nível da troca de acusações.

Fazendo um paralelismo com as regras do jogo, é verdade que uma agressão em campo é diferente de uma resposta a agressão, mas são igualmente puníveis. Desta vez não houve agressão, apenas a resposta. E esta teve considerações desrespeitosas sobre o seu interlocutor.

O que também não pode acontecer é que entre naquela sala sem saber, em termos gerais, o que Rui Vitória disse. Não pode entrar naquela sala exposto, seja Jesus a procurar informar-se ou alguém a ter de informá-lo. Não só é quem dirige a conferência que tem de servir para mais alguma coisa do escolher quem faz a próxima pergunta, mas também a estrutura que envolve o treinador deve manter-se atenta para orientá-lo sempre que mantém ou abre uma frente de batalha.

Jesus fica obviamente mal na fotografia, mas não é o único culpado entre os responsáveis do Sporting.

Rui Vitória, que voltou a falar este sábado, também não tinha necessidade de ter continuado a conversa. Manteve o tom, é verdade, mas não tinha qualquer necessidade de defender-se. A acusação já tinha ficado suficientemente mal a quem a proferira. Assim, deixa escapar mais achas para que a fogueira continue a arder
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O bom senso tem de imperar! Picardias, hoje muito na moda como supostos mind games – o que não é bem a mesma coisa –, são admissíveis, faltas de respeito, mesmo que não extravasem para o campo pessoal, não.

E deveriam, quanto a mim, ser castigadas, seja quem for o infrator. Como já disse o presidente da Associação de Treinadores, há limites, mas é preciso garantir que estes não podem, constantemente, ser pisados.

P.S. Julen Lopetegui deixou o FC Porto, era insustentável. O clube terá sentido que a equipa tinha entrado em espiral negativa e era necessário fazer alguma coisa. Provavelmente, era. Agora, o risco está na nova escolha. Terá de ter valido a pena.