Há sempre algum risco quando se coloca um rótulo de desilusão num jogador quando existe ainda um título por disputar, e três jornadas que poderão decidir muito da vida de vários emblemas.

Se olharmos para as expetativas e para o não cumprimento das mesmas, que será a melhor maneira de chegarmos à conclusão de que estamos perante uma desilusão, o nome de RAFA é talvez o mais mediático. Internacional português, campeão europeu – embora com escassa utilização – e mais de 16 milhões de euros gastos pelo Benfica elevaram muito a fasquia para o jovem avançado de 23 anos, que marcou apenas dois golos (na Luz, frente a Chaves e Tondela) e somou três assistências. A lesão na estreia não o ajudou na afirmação, mas não tem deixado rasto fulgurante nos relvados que pisa.

A definição, no último passe e no remate, precisam de muito mais trabalho e sobretudo sangue-frio, a contrastar com todo o potencial que se lhe reconhece sobretudo na aceleração e capacidade de drible. A três jogos do fim, Rafa poderá ser obviamente ainda muito importante para Rui Vitória e afastar a imagem mais cinzenta que deu nesta segunda metade da época.

Também na Luz, há outra desilusão, essa mais vincada, embora a expetativa tivesse atenuantes. ANDRE CARRILLO chegou a custo zero, apesar de essa condição seja falaciosa face às comissões pagas pelo emblema da Luz (6,6 milhões de euros) no negócio, e tinha como ponto de partida meia época de paragem, desde que se esfumaram as hipóteses de renovação de contrato com o Sporting. Muitas vezes a uma velocidade diesel, sem conseguir grandes desequilíbrios no um-para-um ou criar grandes oportunidades para a equipa, o peruano participou em 19 jogos do Benfica na Liga esta época, 16 como suplente utilizado, marcou dois golos e fez um passe decisivo. Curto, muito curto.  

WILY BOLY estará tapado no FC Porto por Marcano. O espanhol reagiu a uma má época sob orientação de Julen Lopetegui e criou dupla sólida com Felipe. Só que o central francês terá custado 6,5 milhões e jogou apenas três partidas. Os dragões mantiveram o zero na sua baliza (Tondela, Boavista e Belenenses) e, por muito que não tenha comprometido, regressou sempre depois ao banco. É preciso não esquecer que, sendo esquerdino, será eventualmente mais interessante para Nuno Espírito Santo ter Marcano em campo para facilitar a saída de bola. Numa Liga como a portuguesa, e se já existiam dúvidas sobre o verdadeiro potencial do antigo internacional sub-21, agora com 26 anos, o volume da aposta parece ter contornos de excesso.

O rei das assistências de 2015/16 perdeu rapidamente estatuto com o novo treinador. O FC Porto contratou Alex Telles, também forte nas bolas paradas, e havia o consistente Maxi Pereira do outro lado do campo. MIGUEL LAYÚN perdeu espaço, e influência na equipa: 16 jogos, um golo e três assistências contra 5 golos e 15 passes certeiros no campeonato anterior, e que motivaram a compra definitiva do passe do mexicano ao Watford.

Numa época também marcada por algumas lesões, JEFFERSON, por muitos considerados o melhor lateral-esquerdo do plantel do Sporting, ficou muito aquém das expetativas. Zeegelaar tornou-se o dono do lugar e, por vezes mesmo com o brasileiro apto, até Ricardo Esgaio ocupou a posição contranatura, uma vez que é destro e tem jogado quase sempre do outro lado. Fora de forma, longe do momento individual que o levou a ser contratado pelos leões ao Estoril e que prolongou nos primeiros tempos de Alvalade, pareceu por vezes o elo mais fraco da equipa de Jorge Jesus. Temporada para esquecer.

Talvez JOEL CAMPBELL e MARKOVIC, e depois CASTAIGNOS e ANDRÉ. Outras quatro desilusões no plantel do Sporting. O internacional costa-riquenho até poderá ser um case-study. Apresentava números razoáveis nos primeiros dois terços da época - três golos e quatro assistências -, sofreu uma lesão e não voltou verdadeiramente a contar para Jorge Jesus. Já Markovic, figura no Benfica com o técnico antes de se transferir para Liverpool, passou ao lado da aposta leonina. Seis jogos, dois como titular e um golo apenas, foi o que conquistou. O posicionamento mais central, como segundo avançado, não terá ajudado o sérvio no regresso a Lisboa, depois de ter sido à direita no Benfica, faixa ocupada no Sporting por Gelson Martins, que andava a mostrar toda a sua qualidade. Seguiu para o Hull, onde parece ter ganho nova vida.

O brasileiro foi comparado a Liedson pelo próprio treinador, mas não resistiu ao emagrecimento do plantel, depois de em golo em sete jogos, dois como titular, e uma assistência. O holandês foi até aqui um autêntico zero. Em cinco jogos na Liga com suplente utilizado fez zero remates à baliza e, como tal, ficou em branco, sem ter feito ainda qualquer assistência.

BERNARD, emprestado pelo Atlético Madrid, e STURGEON, contratado ao Belenenses, ainda não conseguiram ser peças oleadas na máquina bem montada do Vitória de Guimarães de Pedro Martins. O ganês fez vinte jogos, seis como titular, ainda não festejou qualquer golo e assinou uma assistência, um rendimento distante dos cinco golos e cinco assistências de 2014/15 também na Cidade-Berço. Já o internacional sub-21 marcou dois golos e fez uma assistência no Restelo em 17 jogos, 14 como titular, enquanto só fez parte de três esquemas iniciais em Guimarães, partindo quatro vezes do banco. Aí não teve qualquer influência, com remates certeiros ou passes decisivos, no marcador.

CHRISTIAN foi aposta forte do Paços de Ferreira há duas temporadas. O médio brasileiro, que se tinha destacado no Nacional, participou em apenas nove jogos, quatro como titular, esta temporada, e em vários foi lateral-esquerdo. É verdade que perdeu parte do início da temporada por lesão, mas o futebolista que passou pelo Cluj depois de ter deixado a Choupana está longe do rendimento que chegou a prometer.

O jovem central HUGO BASTO foi uma das boas notícias da última temporada, sendo um dos esteios da excelente campanha do Arouca. Depois de alguns erros deixou de ser indiscutível na equipa, tendo participado em apenas nove encontros como titular. A evolução parece ter estagnado.

O mesmo acontece com TOBIAS FIGUEIREDO, a quem o empréstimo a um Nacional agora em agonia não ajudou. Depois de ter feito alguns jogos como titular no Sporting, tendo mostrado qualidade mas também denunciado a necessidade de maior rodagem, somou minutos – 22 jogos, 20 no onze inicial –, mas também más exibições. A precisar de uma equipa mais estável na próxima temporada.

Por fim, VUKCEVIC. É verdade que já não vai para novo, tem 31 anos, e não poderá ser o ponto de força dos tempos de Alvalade, mas o nível de exigência também nunca seria o mesmo. Andou por Inglaterra, Ucrânia, Grécia, Sérvia e Chipre e esperava-se bem mais do que um único jogo apenas como titular (em 11) e as duas oportunidades de golo desperdiçadas.

Ainda menções desonrosas para Keirrison (Arouca) com o seu único minuto jogado, Danilo (Benfica), que chegou rotulado de craque e vive exilado no Standard Liège, o eterno esquecido Marcelo Meli (Sporting) por Jorge Jesus, João Carlos Teixeira (FC Porto), que tem vivido das migalhas dadas por Nuno Espírito Santo, e Luís Filipe (Vitória de Setúbal), muito longe de confirmar o valor que o Benfica viu em si para avançar para a contratação aqui há uns anos.

Há ainda Tiago Rodrigues (Nacional), cada vez menos entusiasmante desde que trocou Guimarães pelo Dragão, e Dyego Souza (Marítimo), que estragou uma época promissora com uma atitude intempestiva contra a equipa de arbitragem.