É óbvio que é cedo para deitar a toalha ao chão – faltam os tais clichés do muito campeonato, e isto é uma maratona, além de a Liga dos Campeões continuar bem viva –, mas a derrota categórica no Santiago Bernabéu perante o arqui-rival Barcelona deixa feridas profundas no Real Madrid.

É provável que Rafa Benítez seja, mais cedo ou mais tarde, réu de um eventual e até provável fracasso merengue na presente época. Para já, recebe «apoio incondicional» por parte de Florentino Pérez – ele que é o principal responsável pelo atual  status quo   o tal voto de confiança que geralmente costuma ser a antecâmara de precisamente o contrário.

Florentino demorou oito meses a emitir um segundo voto de confiançajá o tinha dado a Carlo Ancelotti a 15 de março, garantindo que o italiano não sairia acontecesse o que acontecesse.

Se correr como o anterior...

Não aproveitar a mudança de paradigma em Barcelona, se bem que feito à custa de muitos milhões e sem ter havido uma rotura total com o passado recente, é boa gestão culé, mas ao mesmo tempo também resultado do fracasso da política desportiva (a existir) madridista.

É óbvio que Benítez esteve muito para lá de ser uma escolha consensual. Num currículo tem dois títulos nacionais, o último há 11 anos, pelo Valencia. E, sim, ganhou uma Liga dos Campeões em 2005 – curiosamente, sou dos que acredita que quem a ganhou foi Gerrard e não o técnico espanhol – e uma Liga Europa ao Benfica em 2013. Sim, tem mais uns quantos troféus, mas parece pouco para quem já anda nisto há alguns anos e é considerado um técnico de top mundial. Mas, para lá de tudo isso, a ideia de jogo é defensiva e enfadonha.

Fazia mesmo sentido?

É adepto do Real Madrid e isso terá convencido o presidente dos madridistas, que lembra que o «Real Madrid é ele» e não admite que ataquem o clube.

O Barcelona não é o mesmo Barça do tiki-taka. Xavi não mora em Camp Nou e isso diz quase tudo. Nem poderia sê-lo com Neymar e Suárez em campo. No entanto, Luis Enrique soube adaptar a filosofia e, acredito, fez com evoluisse. Os culé conseguem abordar o jogo de diversas formas e não apenas de uma única, e possuem uma capacidade letal no ataque, mais do que qualquer outra equipa do mundo.

Talvez o Bayern seja o que ande mais próximo.

No Real Madrid, há ainda os Zidanes de há algum tempo e poucos Pavónes, se quisermos recuar até esse conceito galáctico que batizou os primeiros anos da  era-Florentino. O plantel é uma soma de individualidades e as vitórias conseguidas sustentadas pelas mesmas, que noutros tempos chegariam para fazer a diferença. Mas nunca com um Barça assim.

É difícil olhar para o grupo merengue e não ver qualidade. E essa qualidade dará para ganhar muitas vezes, mas não para o nível de exigência que o seu maior adversário vai colocar no campeonato e outros colocarão certamente na Liga dos Campeões.

A tudo isto são somados os rumores que não param. E não ajudam. De Cristiano que quer sair, de Florentino que quer vendê-lo, numa altura em que continua a haver Ronaldo-dependência. Gareth Bale está longe de ser um bom clone, sobre o qual a equipa se possa reunir, e até nisso o plano do presidente falhou.

Sim, repito, está tudo ainda no início e temos de dizê-lo porque é da praxe, mas os sinais não são nada bons para o gigante espanhol.

Comparado com o Barcelona, o Real Madrid dá ideia de ter parado no tempo. Ter-se-á esgotado o ambição?

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».