«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.

Muito promovida no verão, a aposta na prata da casa acaba por revelar-se, não raras vezes, uma ilusão prejudicial para jovens talentos do futebol português.

Entre junho e julho tudo é um sonho: o telefonema a “convocar” para a pré-época, o arranque dos trabalhos, a vontade de agarrar um lugar. Pelo início de agosto já muitos chocaram de frente com a realidade: as oportunidades resumiram-se aos minutos finais de um ou dois jogos e a esperança de conquistar um lugar no plantel é falaciosa.

Alguns jovens integram os trabalhos de pré-época apenas para “fazer número”, enquanto não chegam os jogadores que estiveram ao serviço das seleções, ou os reforços ainda por contratar. O espaço para afirmação vai diminuindo de semana para semana. O empréstimo surge nos últimos dias de mercado, o que dificulta a conquista de espaço no clube de acolhimento.

Mas ficar no plantel pode ser um presente envenenado, sobretudo quando há quase trinta colegas no balneário, o que logo à partida subverte a lógica das equipas B.

Estes jovens ficam no plantel principal, mas são terceira ou quarta escolha para a posição que ocupam. É o caso de Diogo Gonçalves, tapado no Benfica por Salvio, Cervi, Zivkovic e Rafa. Ou João Carvalho, um «10» sem espaço próprio no modelo de Rui Vitória e até aqui ignorado como opção para «8» ou ala. Ou João Palhinha, recuperado em janeiro pelo Sporting mas agora atrás de William, Petrovic ou Battaglia nas opções de Jorge Jesus para a posição «6».

Ainda que tenha tirado menos proveito da formação nos últimos anos, o FC Porto tem feito melhor esta gestão. A prova disso é o empréstimo ao Estoril de Fernando Fonseca (20 anos), um lateral que já pedia outro patamar, o que permitiu também abrir espaço para Diogo Dalot (18 anos), que treina com a equipa principal mas continua a ter competição regular na equipa B e nos juniores (onze jogos já disputados).

Estamos já em outubro e Diogo Gonçalves tem três jogos disputados (dois pela equipa principal e um pela B), João Carvalho fez um (pela B) e João Palhinha ainda nem alinhou em nenhum. Talvez a terceira eliminatória da Taça de Portugal lhes dê uma oportunidade (vamos lá ver), mas a verdade é que o espaço na equipa principal está vedado e ir à B já é de menos, até porque vão tapar outros valores emergentes.

Salvo qualquer alteração de estatuto – que pareceu pouco provável nesta altura-, resta esperar por janeiro, então, para que acelerem a evolução.

Até lá, rapazes!