«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.

Frente a uma equipa com princípios semelhantes (mas com recursos diferentes), o FC Porto foi vergado por argumentos que costuma lançar também. A equipa portuguesa ainda tentou dar a volta ao teste, mas a verdade é que ainda é caloira na escola onde o Liverpool dá aulas (em cadeiras como "vertigem ofensiva" ou "transição rápida").

Sérgio Conceição apresentou a equipa em 4x2x3x1 (ou 4x4x1x1), com Otávio nas costas de Tiquinho Soares. A ideia passava por reforçar a zona central e ter alguém que encontrasse espaços para lançar transições rápidas, com a “lebre” Marega no lado direito.

O FC Porto trocou a pressão pela prudência, de forma a proteger-se da capacidade ofensiva do Liverpool. E até foi competente numa fase inicial do encontro, a condicionar o ataque organizado do adversário e a criar uma oportunidade, precisamente por Otávio.

Postura mais prudente do FC Porto na fase inicial do jogo, abdicando da pressão no meio-campo ofensivo

Mas depois a equipa inglesa sacou de um trunfo que o FC Porto bem conhece: a reação imediata à perda de bola. Assim se explicam os dois golos da primeira parte: o primeiro nasce de uma reposição manual de José Sá, à procura de Tiquinho...

Lance do primeiro golo do Liverpool: começa com uma má reposição de José Sá, que tenta lançar para Tiquinho Soares...
Lovren antecipa-se a Soares e o Liverpool avança novamente para a área portista
A bola chega a Wijnaldum, solto na zona central, com Herrera já batido e Sérgio Oliveira demasiado distante

E o segundo de um desarme de Milner a Marega, depois de uma opção pouco feliz de Sérgio Oliveira, que afastou a bola de cabeça quando estava sozinho, em condições de a dominar.

Robertson cruza da esquerda e Alex Telles corta em balão, devolvendo a bola para a mesma zona de onde saiu o cruzamento...
Sérgio Oliveira não percebe que está sozinho e corta de cabeça para a frente (Brahimi, antecipando a precipitação do colega, pede calma com os braços)...
Milner ganha o lance a Marega, mas a equipa do FC Porto até parece estar bem organizada, com Herrera e Sérgio Oliveira à frente do quarteto defensivo...
A abordagem de Sérgio Oliveira é demasiado passiva, porém, e Milner, com uma simples simulação, tira-o do caminho e entra na área. Acaba por rematar ao poste e depois Salah marca.

Ao intervalo Conceição recuperou o plano A - Corona rendeu Otávio e foi para o flanco direito, “empurrando” Marega para junto de Tiquinho, em 4x4x2 -, e o FC Porto pressionou em zonas mais adiantadas do terreno.

Mudança na 2ª parte: primeira linha de pressão mais subida, com Sérgio Oliveira a avançar no terreno perante uma saída a três do Liverpool
Na reação à perda de bola, em vez de recuar no terreno para reorganizar-se, o FC Porto tentou pressionar logo

Só que bastaram oito minutos para o Liverpool provocar estragos em contra-ataque, precisamente o que Sérgio Conceição tinha tentado evitar na primeira parte. A partir de um desarme a Brahimi, nas imediações da área, o Liverpool lançou um contra-ataque brilhantemente desenhado por Salah, Firmino e Mané.

Momento da perda de bola no lance do terceiro golo, com Brahimi rodeado de adversários

A mesma fórmula explorou um mau passe de Herrera para Corona, ao minuto 70, com Milner a aproveitar o adiantamento de Ricardo para servir Firmino na área.

O golo da mão cheia apareceu já ao minuto 86, com a equipa portista profundamente abalada na sua concentração, como se percebe pela forma como Herrera e Sérgio Oliveira desprotegeram a zona central do terreno, na sequência de um lançamento lateral.

Danny Ings e Sadio Mané completamente soltos na zona central, com o lançamento lateral favorável ao Liverpool. Sérgio Oliveira tinha estado a disputar o lance na linha e Herrera fora de posição.