«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.

A 18 de agosto, poucos dias antes do fecho do principal mercado de transferências, Jorge Jesus dizia que a prioridade era segurar as principais referências do plantel do Sporting, mas admitia também que, se possível, «gostaria de ter mais um jogador com características ofensivas».

«Andamos à procura de testar vários jogadores que combinem com o Bas Dost e isso é também o segredo do treinador: perceber quais as duplas que melhor desempenham o que a equipa quer», acrescentava ainda o técnico leonino, assumindo que o alvo era um segundo avançado.

Esse jogador não chegou, e Jesus acabou por virar-se para Bruno Fernandes, mas aproximando a equipa do 4x2x3x1. O reforço recrutado à Sampdoria foi «muleta» de Bas Dost em 13 dos 33 jogos já disputados, mas nos últimos tempos intensificou-se também a aposta em Podence, doze vezes titular nas costas do ponta de lança holandês.

Alan Ruiz (cinco jogos) e Bruno César (dois jogos) também foram alternativas utilizadas nesse papel, mas chegados a janeiro Jorge Jesus assumia que ainda procurava um jogador para «acasalar com Bas Dost». Entretanto testou Rúben Ribeiro nessa tarefa, apenas dois dias depois de ter recebido o reforço recrutado ao Rio Ave, e agora volta a contar com Fredy Montero.

Duas novas alternativas para a mesma vaga no «onze», mas para soluções teoricamente diferentes.

Caso utilize Rúben Ribeiro no corredor central (será sempre uma opção válida também para as alas), Jesus terá sobretudo uma alternativa a Bruno Fernandes se quiser aproximar a equipa do 4x2x3x1. Seja para gerir a utilização do camisola 8 ou para tê-lo mais próximo de William e da primeira fase de construção.

Fredy Montero será uma alternativa a Podence num modelo mais fiel ao 4x4x2. E se o português tem dado mobilidade e capacidade de desequilíbrio no último terço, especialmente quando se alia a Gelson Martins no lado direito, Jesus sentirá que a eficácia na área não pode depender exclusivamente de Bas Dost. E Podence ainda procura o primeiro golo pela equipa principal, ao fim de 39 jogos.

Montero não tem a mobilidade e a capacidade de desequilíbrio individual de Podence, mas tem maior sagacidade a explorar o espaço entre linhas, é mais seguro a jogar de costas para a baliza e acrescenta capacidade de finalização (37 golos em 94 jogos de leão ao peito).

Com Vietto o Sporting arriscava-se a reunir todas estas características com um só jogador, mas perdido o argentino para o Valência, Jorge Jesus terá de ir gerindo estes diferentes perfis.

P.S.: se este é um espaço que privilegia a análise técnico-tática, é incontornável elogiar a “lição” dada por Abel e Rui Vitória após o Sp. Braga. Não são os primeiros a deixar bons exemplos destes, mas infelizmente é raro ter dois treinadores a entrar assim no lado estratégico do mesmo jogo. Haverá sempre quem diga que o ruído está no «jogo entre linhas» ou na «saída a três», e não nas polémicas constantes que envolvem o futebol português, mas para todos os outros foi muito enriquecedor.