[artigo original: 08-03-2018 10:03]

Nenhum homem é uma ilha, mas um guarda-redes está próximo de o ser.

É um tipo desamparado quando lhe aparece um adversário pela frente, num um para um. Um homem sem guarda-costas e que tem o chão como paraquedas.  

Quando a festa é feita pela própria equipa, ele está lá ao longe, na maioria das vezes. Distante da cerimónia, vestido numa cor diferente dos outros e tudo.

Naquele dia, por exemplo, estava de verde. E esteve em uns para uns com Robben, esse sim, nome de uma maldita ilha.

E enquanto Iniesta marcava o golo de uma vida, Camacho gritava na TV e a Espanha gritava em todo o lado, o homem de verde ajoelhava-se e chorava.

Nada mais existia se não ele.

Não havia jogo, não havia campeonato do mundo, não havia jornalistas, público ou vuvuzelas. Não havia Holanda, Robben ou Espanha, Real Madrid ou Barcelona.

Havia Iker.

Somente Iker. Um jogador icónico, num momento de solidão, perante milhares.

Casillas é um jogador especial. Não é o mesmo daquele julho de 2010, mas a qualidade ainda é tal que está por cima de quase todos os guarda-redes do nosso campeonato (na minha opinião, apenas batido pela extraordinária temporada de Rui Patrício até ao momento).  

É um valor inestimável para o FC Porto em campo – as titularidades de José Sá trataram de mostrar a diferença -, e um promotor do Porto cidade nas redes sociais.

O primeiro ponto leva a que os adeptos peçam a renovação do portero. O segundo leva a outras questões, secundárias, mas igualmente relevantes. Pode, por exemplo, ser veículo do futebol português [e do FC Porto em particular] a outros universos: sozinho, Iker tem mais seguidores no Twitter… do que todos os clubes da Liga juntos.

Iker Casillas é um jogador icónico. E caro para as finanças portistas, na atualidade. A administração azul e branca fez saber, de viva voz, que deseja a continuidade do guardião, embora o mundo inteiro saiba o que isso significa nos vencimentos do espanhol.

E assim, Iker, com uma frase do presidente do clube e uma hashtag nas redes sociais voltou a ficar num momento só dele.

Não como aquele em julho de 2010, em que uma carreira já brilhante atingia o ponto mais alto com o golo de Iniesta. Não como noutro um para um com alguém que lhe quer fazer golo. Não como aquela despedida, isolado do clube, na sala de conferências do Real Madrid.  Mas sim um em que, na solidão do seu pensamento, terá de decidir a continuidade na Invicta.

Talvez a noite e o reconhecimento de Anfield lhe mexam com as emoções, na altura de tomar a decisão. Sendo certo que este que por cá temos é o futebol que apelida Aimares de piscineiros em vez de craques, e o vai chamar «velho» e «acabado», apesar do valor e notoriedade inegável que ele traz ao campeonato e não só ao FC Porto.

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter