Bandidos, é o que são.

É o que lhes chamo. E digo os nomes, não tenho medo. Bandidos sejam James, Neymar, Messi ou Muller. Bandidos sejam Ochoa, Howard ou Mbohli. E todos os coadjuvantes.

Usurpadores. Ladrões de memórias. Patifes. Não acham que já chega? Não acham que estão a exagerar?

O que estes senhores, e mais alguns, estão a fazer tem nome. Chama-se estilhaçar o melhor Mundial que tenho memória. Dar cabo de um mês de sonho no calor dos EUA. Deixar em cacos o torneio que imortalizou Romário, diabolizou Baggio e deu ao soccer o nome real. Futebol, pois claro.

Quando Van Persie voou para o empate com a Espanha, prestes a ser desmembrada por uma laranja faminta, o voo de Letchkov, vinte anos antes, ficou mais curto.

Quando a Costa Rica deixou o Uruguai, e o mundo, de olhos arregalados e boca aberta, os jogos da Roménia de Hagi e Raducioiu começaram a fugir-me da memória.

Ficou mais fácil esquecer as piruetas de Brolin, os golos de Keneth Anderson e as provocações de Thomas Ravelli. O filho que Bebeto embalava parece-me, agora, um senhor de respeito, de vida construída, filhos, quem sabe, netos.

Vejo Yekini agarrado às redes e parece-me cada vez mais parecido com Lichsteiner.

O equipamento com estrelas dos EUA perdeu o azul, está preto e branco. Há mais vida no verde argelino. Há mais cor num Irão que ainda sonhou. Numa Colômbia que deslumbra.

Ver Roger Milla marcar um golo com 42 anos ficou para trás, quando a Colômbia usa um guarda-redes com 43. Salva-se Salenko e os seus cinco golos num jogo, que - respeito - esta geração russa fez questão de deixar incólume.

Até no lado mau, caramba. O que Tassotti fez a Luís Enrique não deu um castigo tão pesado como o ataque vampírico de Suarez a Chielini.

O Mundial de agora mostra-se o melhor em mais de 20 anos. De sempre não digo. Do meu sempre, sem dúvida.

O Mundial do Brasil é história a cada dia. É um marco no futebol, um pontapé dos que doem nos profetas da desgraça. Em quem via cada vez menos interesse no torneio.

Fica para trás aquele mês nos EUA há vinte anos. Este é que é o Mundial em que tudo acontece.

Dia após dia os mitos caem. Pelo menos, segurem lá a baliza. 



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