Antes vai ser sempre um jogo difícil, como prova a classificação do adversário, caso seja boa. Se for má, como é óbvio, é porque não transmite o real valor daquela equipa.

Depois são mais três pontos apenas, caso venham, o que vai de encontro ao objetivo de ir jogo a jogo, até porque os regulamentos impedem que se tente ir de dois em dois, estou em crer. Caso os pontos não venham, então a solução não pode ser outra que não levantar a cabeça.

Ninguém gosta de individualizar, nem de falar de arbitragens, mas... Há sempre um ‘mas’, sobretudo em caso de prejuízo. Temas que passem ao lado do jogo não têm lugar. Estamos aqui para falar do jogo.

Transferências? Sabem-se pelos jornais, normalmente, mas nem assim as vendas aumentam. Talvez porque, outras vezes, é o empresário que está a tratar disso, como se alguém achasse que mudar de clube era tarefa para o tratador da relva.

Quando se concretizam é um sonho tornado realidade. Um sonho de pequenino, muitas vezes. Há quem prometa dar tudo em campo e ajudar a equipa, o que leva a crer que é possível que haja quem não esteja para se chatear com isso. Pelo sim, pelo não, mais vale avisar: nós somos dos que vão ajudar, atenção.

Depois, há sempre as imagens de marca. Como o ‘caminho’ de Rui Vitória, a ‘ideia’ de Nuno Espírito Santo, a ‘vontade de ser protagonistas’ de Lopetegui ou a ‘não aquisição de pontos em consequência de um melhor apetrechamento da coletividade adversária’ de Manuel Machado.

Mas, no geral, é assim que se comunica no futebol português. Já não é gíria, nem discurso de ocasião: neste momento, é pouco mais de nada.

Alguém achou que as equipas passariam a ganhar mais jogos quanto menos fosse possível extrair das mensagens que passam. Como se prova, aliás, com André Villas-Boas, que foi de longe o melhor treinador a comunicar na última década em Portugal e, como se sabe, teve escasso sucesso desportivo...

Antigamente, a imagem do jogador de futebol era de um tipo, vamos lá, burro. Sem ofensa. Era o retrato que havia: muito jeito para brincar com uma bola, pouco para brincar com as palavras. Até queria dizer mais, mas não sabia. Hoje, até podia dizer mais, mas não deixam.

Sobretudo nos mais jovens, que estão a começar e ainda não dominam na perfeição esta técnica de não dizer nada através de palavras, chega a ser doloroso assistir. Há quem tente tanto fugir à tentação de proferir uma opinião que acaba por dizer uma frase sem sentido: gramatical e desportivo.

Felizmente, na última semana, houve dois excelentes exemplos de que ainda há quem consiga conversar com jornalistas e, através deles, com os adeptos, manifestando opiniões, introduzindo conceitos, contando histórias. Conversar, conversando. Dizer, dizendo. Que raridade.

Falo, naturalmente, da entrevista de Iker Casillas ao Porto Canal e da conferência de imprensa de Abel Ferreira após o Sporting-Sp. Braga. Por falar no Sporting, louve-se Jorge Jesus: a forma pode nem sempre ser a correta (o que – opinião pessoal – até lhe dá uma certa piada), mas o conteúdo costuma ser, semana após semana, o mais rico que vemos por cá.

Ao ouvir Casillas e Abel a falar, a única dúvida que me assolou é se o discurso era efetivamente bom ou só o era por comparação com o quadro geral. Seja como for, fica a nota.

Vão continuar a ganhar, a perder e a empatar. Mas, pelo menos, vão mais longe do que um simples levantar de cabeça.

«O GOLO DO EDER» é um espaço de opinião no Maisfutebol, do mesmo autor de «Cartão de memória».Porque há momentos que merecem a eternidade e porque nada representará melhor o futebol português, tema central dos artigos, do que o minuto 109 de Paris. Siga o autor no Twitter.