«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

Se eu fosse uma chuteira preta, o pé esquerdo de Messi seria a minha atração fatal. O pé que encanta, hipnotiza, arranca e trava sem avisar ninguém.

Se eu fosse uma chuteira preta, o pé esquerdo de Messi seria o Santo Graal do meu couro. A santidade pontifícia no maior Estado do planeta, o futebol.   

Se eu fosse uma chuteira preta, o pé esquerdo de Messi seria o génio dos meus dias, o sacro fantasma reincorporado num argentino baixote. 30 anos depois.

Se eu fosse uma chuteira preta, o pé esquerdo de Messi seria o meu terreno lá de casa, o meu jardim infantil, um pátio das cantigas para adestrar a bola.

Se eu fosse uma chuteira preta, o pé esquerdo de Messi seria o refrão das minhas tardes de domingo. E os dias seriam sempre domingo, tal e qual um Mundial de Valdano.

Se eu fosse uma chuteira preta, o pé esquerdo de Messi seria o meu brinquedo preferido. Seria D10S rodeado de belgas ou a avançar sobre comandos britânicos.

Se eu fosse uma chuteira preta, o pé esquerdo de Messi seria o meu mentiroso compulsivo. Compulsivo e bom. Ludibriava e iludia, contava teorias do nada para agarrar o mundo do tudo.

Se eu fosse uma chuteira preta, o pé esquerdo de Messi seria o meu palanque no mundo, a minha tribuna de sofista, o meu trampolim para tocar as nuvens e sentar-me com Diego Armando.

Se eu fosse uma chuteira preta, o pé esquerdo de Lionel seria o meu coro de gospel. E juntos, de mãos dadas, encostávamos para o golo: «Oh Lord, have Messi on me!»

2016/2017: vivemos uma era bicéfala, de prodígios incontestáveis e incontestados. Vivemos o privilégio de ter Cristiano Ronaldo a honrar Portugal, mas não temos nem devemos cair na tentação absurda de sentir a obrigação de odiar a sua Némesis, Lionel Andrés Messi.

Aproveitemos esta rara oportunidade de glosar semanalmente Ronaldo e Messi. Pelo menos até ao Mundial2018, provavelmente até mais umas épocas. O reverendo génio de Leo não merece um olhar de reprovação dos portugueses, tão em voga nos dias de hoje.

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PS: Bryan Ruiz, apóstolo das Chuteiras Pretas
Sempre adorei jogadores inteligentes. Jogadores que não correm sem saber para onde, que não fintam quando devem passar, que levantam a cabeça e escolhem quase sempre o melhor caminho a seguir.

Bryan Ruiz é um destes jogadores. É um esquerdino cerebral, sereno e inteligente. É um gosto incluí-lo nesta lista de apóstolos das CHUTEIRAS PRETAS, a causa-mor deste espaço de Opinião.

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».