Os sinais, depois de uma primeira época a zeros, denunciavam há algum tempo que Julen Lopetegui provavelmente não terminaria a temporada.

Da eliminação na Liga dos Campeões a 9 de dezembro até ao FC Porto-Rio Ave de 6 de janeiro passou quase um mês. Pelo meio, os dragões perderam na Taça da Liga, no Dragão, com um Marítimo que se tem mostrado muito irregular (29 dezembro) e com o Sporting em Alvalade (2 de janeiro). Havia, como disse, sinais de que a equipa estava em quebra e que a probabilidade de se chegar ao desfecho a que se chegou há um par de semanas era bem maior do que o sucesso final.

Apesar de entender que a SAD portista assumiu claramente um risco muito elevado ao manter o espanhol – tal como o escrevi aqui – também aceito que esta o tenha mantido depois do descalabro em casa com o Kiev, complementado posteriormente com a derrota em Stamford Bridge. A dois pontos do Sporting, a equipa poderia recompor-se, e era preciso esperar um pouco mais antes de uma decisão tão radical.

No entanto, também parece evidente, face à demora que foi encontrar uma solução de recurso como é José Peseiro, o FC Porto não conseguiu precaver o futuro. Ou seja, parece-me claro que houve excesso de confiança numa resolução fácil do problema, quando o cenário ideal seria ter o novo técnico a entrar no Olival praticamente ao mesmo tempo que Lopetegui limpava o cacifo.

Marco Silva, André Villas-Boas e Sérgio Conceição foram publicamente rejeitando a ideia de entrar agora no Dragão. O atual treinador do Zenit prolongou essa intenção até ao início da próxima época, contrariando o discurso anterior do para o ano estou aí em Portugal.

Chega agora Peseiro, que carrega duas ou três imagens há algum tempo: o do excelente futebol que as suas equipas praticam, e a de não conseguir prolongar esses índices exibicionais até aos títulos, falhando aqui e ali em momentos decisivos. São imagens que transporta desde Alvalade – do título perdido para o Benfica e da final da Taça UEFA em casa sobretudo – e que uma Taça da Liga com o Sp. Braga não tem ainda peso suficiente para diluir.

Para o técnico, trata-se de óbvio oportunidade de ouro para limpar essa imagem e recolocar-se no mapa do futebol europeu, e dos grandes do continente.

Não discutindo se é ou não o nome certo para virar a página no Dragão, há algo que importa sublinhar: só entra quatro jogos depois de Lopetegui ter saído. Se com o Boavista correu bem duas vezes (com alguma felicidade no penálti defendido por Helton no jogo da Taça) a Rui Barros, a derrota em Guimarães e esta agora em Famalicão deixam respetivamente a equipa a cinco pontos da liderança e fora de mais uma competição.

Guimarães era, só por si, uma visita delicada, como o demonstra o passado recente.

Ao não contrariar as notícias das negociações com Sérgio Conceição e até o próprio ambiente de dúvida em relação ao comportamento do provável futuro treinador, o FC Porto deixou que o jogo se virasse ainda mais contra si. Os minhotos fizeram ponto de honra em vencer, como se houvesse essa necessidade para reforçar o profissionalismo de todos e, também, do seu técnico.

A derrota, com os portistas a caírem para cinco pontos de atraso, deixaria sempre Conceição mais longe
. Julgo que o FC Porto não poderia, em termos de imagem, contratar um treinador que podia ter acabado de afastá-lo da rota do título. Nem o técnico poderia facilmente conviver com essa ideia. A ideia de começar já derrotado por si próprio.

A vitória dos dragões iriam ao mesmo tempo fragilizá-lo. Logo, a ser Conceição teria de ser resolvido antes do V. Guimarães-FC Porto.

Neste momento, o efeito da chicotada esmoreceu. O FC Porto está pior do que quando saiu Lopetegui. Podemos argumentar que chegar às meias-finais na Taça da Liga já era muito complicado, mas encontra-se mais longe do Sporting, já atrás do Benfica, e psicologicamente arrasado.

As declarações de Helton e até mesmo de Rui Barros depois do jogo com o Famalicão denunciam esse mesmo estado de alma. Os jogadores do FC Porto sentem-se perdidos.

Se tivesse aparecido há dois ou três jogos – mesmo que não haja garantias de que consigo no banco o FC Porto ganharia sempre – Peseiro teria de focar-se praticamente de início numa única coisa: o trabalho de campo. Agora, precisará de mostrar valências, que não lhe são reconhecidas por aí além, na recuperação psicológica.

José Peseiro poderá ir a tempo, mas foi demasiado longa a espera. E teve obviamente custos.

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».