Dois dias antes do 1.º de abril, li a notícia de que «o Sporting proibiu contratualmente os seus atletas de utilizarem vermelho, a cor do rival».

Por momentos, duvidei que o JN tivesse antecipado o Dia das Mentiras, antes me lembrar de que quem manda em Alvalade é Bruno de Carvalho.

Uma medida destas não se estranha num presidente-adepto como é o do Sporting. Parece-me ainda assim curta, em termos do folclore futebolístico que, sem ironias, aprecio.

Portanto, faço desde já daqui o convite: caro Bruno, prepare-se que vamos fazer uma viagem à terra que é o seu pior pesadelo. Pode ser?

Decidiu interditar o uso do vermelho no seu clube, certo? Pois, muito bem. Então, venha conhecer uma cidade inteira onde o verde está proibido.

Vamos até ao Reino Unido, que nos serve tantas vezes de bússola quando o assunto é amor pelo futebol. Mais precisamente a Larkhall, cidade de 15 mil habitantes nos arrabaldes de Glasgow, um bastião protestante e de adeptos do Rangers, onde a cor do católico Celtic está banida.

Não, não é mentira, que o dia disso já passou.

Em Larkhall, a Subway, rede norte-americana de fast-food presente em mais de uma centena de países, teve trocar o verde do seu logótipo pelo preto, tal como fizeram um conjunto de farmácias e mais uns estabelecimentos de porta aberta.

É uma solução melhor a ter montras partidas; ou semáforos destruídos – mais de duzentos em três anos… Houve até gente, cuja sobriedade não está de todo garantida, que chegou a queimar a relva dos jardins (aí, sem ter alternativa).

Larkhall é, portanto, uma espécie de anti-Alvalade.

Desengane-se, porém, quem vê na evocação deste episódio uma crítica ao presidente leonino. Vai já daqui um elogio: Bruno traz cor ao futebol. Jesus, então, nem se fala…

Bruno é o presidente que veste a camisola e entra em campo para dar uns desajeitados pontapés na bola, aquele que vemos no banco quase a fazer beicinho quando perde, o chefe que intercala comunicados e posts no Facebook, escritos por impulso, que compra guerras por «da cá aquela palha»…

Em suma, é frenético como é natural a quem está apaixonado pelo seu clube. Comete erros e exageros nas palavras e nos números, hiperbolizando a grandeza dos seus. Não está, porém, acomodado. Poucos duvidam da intensidade com que vive o cargo que sonhou ocupar no seu clube do coração; e o facto é que em três anos de presidência ele fez com que o Sporting voltasse a contar para o Totobola.

Desta vez, Bruno quis pôr preto no branco a proibição do vermelho.

Fez bem?

Fez mal?

Sinceramente, não sei. Mas acho graça a alguns (não todos) laivos de destemperança e fervor clubístico. E sei que, mais a norte – não tão a norte como a Escócia – temos o exemplo da administração de uma SAD, que passou há um mês de cinco para sete elementos, onde todos parecem ausentes em parte incerta na hora de assumir publicamente responsabilidades por equívocos e erros crassos que redundam no terceiro descalabro consecutivo.

Percebe-se pouca paixão neste FC Porto, que pela primeira vez na história perdeu em casa com o «lanterna vermelha» da Liga.

Posto isto, ciente de que peco por simplismo, coloco uma questão aos adeptos dos clubes rivais do Benfica:

Preferem que o vermelho seja proibido, ficando ainda assim com uma considerável paleta de cores para usar, ou, chegados aqui, não terem alternativa a andar de luto, por decoro, para assinalar o fim de mais uma época desportiva miserável?

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«Geraldinos & Arquibaldos» é um espaço de crónica quinzenal da autoria do jornalista Sérgio Pires. O título é inspirado na designação dada pelo jornalista e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, que distinguia os adeptos do Maracanã entre o povo da geral e a burguesia da arquibancada.