O título é provocação, claro, mas factual. Por isso, ainda vai a tempo de desistir: a sério que não há futebol nos parágrafos seguintes. Afinal, este podia ter sido um fim de semana duplamente histórico para as modalidade coletivas de pavilhão em Portugal. Só que, apesar da vitória por 3-2 sobre o Vojvodina Novi Sad e do apoio de 1700 adeptos na Luz, a equipa de voleibol do Benfica não conseguiu repetir a proeza do Sp. Espinho, em 2001, fazendo com que uma prova europeia de clubes – neste caso, a Taça Challenge - ficasse por cá. No andebol, por outro lado, ABC e Benfica, mesmo com resultados promissores entre sábado e domingo, terão de sofrer mais uma semana para poderem assegurar uma inédita decisão cem por cento lusa numa Taça Challenge que também já ficou em Portugal, graças à vitória do Sporting, em 2010.

Como estas são ocasiões propícias ao ufanismo e ao exagero patrioteiro, a bem do rigor convém lembrar que, num caso e noutro, estamos a falar da terceira prova europeia de clubes. O que não pode servir para desvalorizar ou retirar mérito às campanhas dos homens de José Jardim, Carlos Resende e Mariano Ortega, mas ajuda a perceber o contexto - e o muito que nos separa do topo da Europa, nestas modalidades em particular. A título de exemplo, veja-se que só por uma vez o grande dominador do andebol português nos últimos anos, o FC Porto, conseguiu entrar no primeiro patamar de elite, a fase de grupos da Liga dos Campeões.



O curioso é que não é preciso recuarmos muitos anos para encontrarmos um tempo em que a seleção portuguesa se destacava no Mundial de voleibol (8º lugar em 2002), e a seleção de andebol era presença regular em Mundiais e Europeus (7º lugar em 2000). Mas, daí para cá, fatores tão diversos como o crescimento da popularidade do futsal, o definhar do desporto escolar e a crise generalizada, que levou à debandada de mecenas e patrocinadores, fizeram-se sentir com mais intensidade nos pequenos e médios clubes. E, assim, as modalidades coletivas de pavilhão foram enfraquecendo raízes e ficando ainda mais longe dos radares – e das prioridades do público.

Daí a importância de acontecimentos como o deste fim de semana: a fasquia está baixa, e bastaria que um décimo dos 1700 espectadores do voleibol na Luz (mais do que em 51 jogos desta edição da Liga, ainda assim...), ou dos milhares que acompanharam as transmissões pela TV tivesse despertado a sensibilidade para algo mais que a contagem ritual de penáltis à segunda-feira para se poder falar em sucesso.

Mais do que ganhar taças, a prioridade passa agora pelo alargamento dos conhecimentos e dos horizontes desportivos. Que, em Portugal – com muita culpa dos media, mas não só – permanece estrangulado pelos temas de sempre: salvo raras exceções acorda de quatro em quatro anos a bocejar, perguntando quantas medalhas olímpicas vêm aí. Ora estas coisas começam fatalmente mais de trás. E, assim, se à conta de uma final perdida, ou de duas meias-finais ganhas, durante as próximas semanas umas dezenas de adolescentes forem para a aula de Educação Física mais dispostos a experimentar uma modalidade diferente, os jogos destes fins de semana, com ou sem troféus conquistados, terão cumprido o objectivo tão óbvio e tão fácil de esquecer: mostrar o desporto como instrumento formador, que nos torna mais disponíveis para o mundo e para a diversidade que este nos oferece. O contrário da cegueira e do sectarismo com que tantas vezes o confundimos.