Análise de Nuno Chaves, jornalista da TVI e CNN Portugal especializado em Ténis, à evolução de Nuno Borges, ainda antes dos oitavos de final do Open da Austrália

Quem diria que íamos ter um país de olhos postos no outro lado do mundo, às tantas da madrugada e a assistir a história. Nuno Borges está a elevar o ténis e o nome de Portugal a outros patamares e que bom é acompanhar isso de perto.

Enquanto escrevo faltam ainda algumas horas para o encontro mais importante da história do ténis português.

Por isso, aproveito para falar um pouco do que é Nuno Borges. De há dois anos para cá, muita gente pergunta-me se Borges será o futuro de Portugal na modalidade e até onde é que pode ir. Sempre coloquei os pés assentes na terra, mas também sempre demonstrei ambição. Sempre disse que tinha o potencial para bater o histórico e impressionante 28.º lugar do ranking que João Sousa conseguiu alcançar. E explico porquê.

Falar de Nuno Borges é falar de determinação, raça, ambição e talento. Tem 26 anos, já não é ‘miúdo’, apareceu relativamente tarde, mas porque o próprio assim o quis.

Nuno Borges nasceu na Maia, começou a jogar ténis com seis anos e aos 18 aventurou-se pelos Estados Unidos.

Foi estudar e competir durante quatro anos na Universidade do Mississippi State. De 2015 a 2019.

Para se ter uma ideia, o circuito universitário norte-americano é um dos mais exigentes a nível mundial e uma autêntica preparação para a alta competição. De lá vêm quase todos os grandes nomes do ténis norte-americano e não só.

O maiato aventurou-se e, acreditem, deixou por lá a sua marca. Em 2019, no seu último ano na América, levou o Mississippi State à grande final, foi número um do circuito e foi eleito o melhor jogador do ano. Enquanto lá esteve, alcançou umas impressionantes 189 vitórias: 121 em singulares e 68 em pares. Perdeu apenas 65 encontros.

Todo este processo permitiu a Borges ganhar um estofo e uma bagagem única para a alta competição. A partir de 2020 ficou a ‘full-time’ na modalidade e os resultados chegaram com naturalidade.

Em janeiro de 2020 era nº 675 do mundo. Quatro anos depois vai estrear-se nos 50 melhores. Acreditem que não é para quem quer, se fosse por aí...

A sua primeira vitória ATP aconteceu em 2021, no Estoril Open, e, em 2022, venceu o título de pares no mesmo torneio. Os dados estavam mais do que lançados e percebia-se que o que está a acontecer agora era uma questão de tempo.

Já tive a possibilidade de privar com ele algumas vezes e basta falar cinco segundos para perceber que está a viver um sonho e que só pensa em competir e em evoluir. Sem tiques de vedeta, apenas o desejo de fazer o que mais gosta.

Este Open da Austrália deixa água na boca para o futuro. Foi um desbloqueio mental porque, até aqui, ainda não tinha vencido um top 30 e ultrapassado uma segunda ronda de um torneio ATP.

E, mais do que o nível de jogo, o que mais me tem impressionado é a disponibilidade mental. Quem diria que seria Grigor Dimitrov, número 13 do mundo, a vacilar na hora da verdade?!

Tudo isto são dados animadores que me levam a dizer, com segurança: Portugal, o nosso ténis está em boas mãos.