O Ajax sempre conseguiu manter a sua identidade, ao longo dos anos, pela forma como integrou antigos jogadores do clube, tanto na sua estrutura como ao nível do treino. Tudo passava por quem fez parte da solução, por quem esteve dentro do campo.

Isto era verdade a nível diretivo, nas equipas técnicas - desde os escalões de formação até à primeira equipa principal – ou no papel de conselheiros.

Nos últimos anos, no entanto, o Ajax foi perdendo isso, o que resultou na perda de identidade. Deixou de haver ‘o Ajax’, sendo mais um clube, como os outros.

Perdeu-se, dessa forma, uma ideia consensual do que deve ser o clube. É um clube comprador? Não. É um clube formador? Sim. Mas como deve ser feita a formação, se tinham saído as pessoas que mantinham a tal identidade?

Identidade, precisamente, é uma palavra que se repete, mas que é fundamental no caso do Ajax, é a verdadeira razão da sua existência e do seu sucesso.

Esse sucesso foi sempre pensado em forma de ciclos. Nos anos 70, nos anos 90, nos anos 2000.

A fórmula foi sempre assumida: é um clube formador e vendedor, que luta pelos títulos utilizando essa tal identidade e essa forma de estar no mundo do futebol. O recurso ao mercado deve ser feito para responder a necessidades pontuais, procurando jogadores jovens que possam ser trabalhados dentro da forma de jogar do Ajax.

Neste momento, Louis Van Gaal foi recuperado, como conselheiro, apesar de estar muito doente. A terrível situação do clube fez com que fosse procurar um dos grandes líderes e pilares do seu sucesso.

É nessa lógica que é feita a aposta em John Van´t Schip para treinador. Foi quem deu a cara por uma situação que é difícil de reverter, mas que, com alguém que acredita e se identifica com os valores do Ajax, vai à procura de estabilidade, evitando a descida de divisão.

Este ano está perdido, mas ninguém imagina o Ajax na segunda divisão.

A filosofia do clube é compatível com as exigências do futebol profissional do século XXI. O que fizeram no clube Edwin Van der Saar (que passou por todos os departamentos antes de ser CEO, até ao final da época passada) e Marc Overmars (que foi um excelente diretor desportivo) é um exemplo a seguir.

É evidente que para se assumir cargos de direção num clube, é preciso saber alguma coisa de gestão, de finanças, de marketing, de liderança, para lá do aspeto desportivo. Mas a solução pode passar, também, por ex-jogadores, que tenham uma história no clube. Pessoas que percebam aquilo que o Ajax defende e a forma como enfrenta os seus desafios.