Foi um daqueles dias em que (quase) tudo correu mal.

Na tarde em que Sérgio Conceição regressava ao banco, depois de 37 dias de ausência, o treinador do FC Porto tinha uma surpresa reservada – que, presume-se, terá estado a preparar durante as duas semanas de pausa na Liga: três centrais. O regressado Pepe, o desaparecido Carmo e o intocável Marcano.

A ideia durou três minutos.

O central espanhol lesionou-se e fez abortar, dessa forma, o trabalho que Conceição tinha projetado em meia-dúzia de sessões de treino à porta fechada no Olival.

Pior: Sérgio Conceição não perdeu Marcano apenas para os 87 minutos que lhe faltou cumprir neste jogo da 5.ª jornada, Marcano vai estar longe dos relvados durante muitos meses e, provavelmente, já nem voltará a jogar em 2023/24.

A notícia, para o FC Porto, é péssima. O mercado de transferências fechou há 15 dias e, salvo a possibilidade de contratar um jogador sem contrato, Sérgio Conceição só poderá ter um novo central nos primeiros dias de janeiro. Se pretender, eventualmente, repetir a fórmula da defesa a três, tem escolha única: Pepe, David Carmo e Fábio Cardoso.

O azar bateu à porta daquele que estava a ser, e a longa distância, o jogador com rendimento mais elevado neste início de temporada dos dragões. Não apenas pelos golos decisivos (nas vitórias frente a Farense e Rio Ave), mas pela capacidade de assumir cada vez maiores responsabilidades de liderança – nas fases em que não estiveram, em simultâneo, as chefias naturais do FC Porto: Pepe, no relvado, e Sérgio Conceição, no banco.

O percurso que Marcano vem discretamente percorrendo no Dragão é, no mínimo, respeitável. É hoje o defesa com mais golos marcados na história do FC Porto, era a ele que estava confiada a braçadeira de capitão na ausência de Pepe e acabara de ser eleito, pelos treinadores da Liga, como o Melhor da Defesa no mês de agosto.

Pois é este mesmo jogador, que teve o mérito de convencer o FC Porto a contratá-lo duas vezes (ao Rubin Kazan, em 2013/14, e à Roma, em 2019/20), que vai agora, aos 36 anos, ter de ultrapassar um longo processo de recuperação na sequência da rotura do ligamento cruzado anterior.

Nos últimos anos, no Benfica, dois jogadores (também defesas, curiosamente) sofreram lesão semelhante: André Almeida, que voltou 10 meses depois, e Lucas Veríssimo, que precisou de um ano (!) para regressar à competição.

David Carmo, que estava perto de Marcano no momento fatídico, carrega ainda o peso de ter protagonizado a transferência mais alta de sempre no futebol português: 20 milhões de euros. Também por isso, mas não apenas, se vinha questionando o apagão do antigo central do Sp. Braga nos últimos meses. Voltou à titularidade, na Reboleira, 321 dias depois de o ter feito pela última vez.

Foi um ano sem Carmo. E, agora, será um ano sem Marcano. Sérgio, temos aqui um problema, não temos?

Opinião da autoria de Nuno Farinha, comentador da CNN Portugal que escreve no Maisfutebol