Somos sempre os mais pobres, os que mais sofrem, os que não estão no centro das decisões políticas, os que vivem das conquistas do passado, os que partilham identidades com a América Latina, os irmãos muitas vezes de costas voltadas mas que se vão aturando e agora também os que atingem níveis superiores a todos os outros, dominando o futebol europeu.

O que aconteceu nos últimos dias nas competições europeus é uma lição para os endinheirados do centro da Europa, que levantam muitas vezes a cabeça, pensam que mandam em nós, mas que agora assistem à nossa festa. O futebol Ibérico domina neste século XXI e nas próximas finais europeias terá domínio absoluto com a presença de Benfica, Sevilha, Real Madrid e Atlético de Madrid. Só é pena que um dos jogos seja jogado fora da Ibéria, mas do mal o menos, pois sempre é no sul do continente.




O triunfo do Benfica sobre a Juventus é apenas a derradeira lição de como o futebol é um terreno singular, onde subsistem regras muito diferentes do dia-a-dia. Aqui qualquer um pode triunfar, mesmo quando do outro lado parecem estar todas as forças possíveis e a Juventus tinha tudo do seu lado (até o aparelho que dirige, o que torna estranho o protesto de Conte direcionado à equipa de arbitragem). O mesmo aconteceu em Valência, com o golpe de teatro provocado pelo Sevilha, que sofreu até ao fim para marcar um golo que derrubou um adversário que também jogava em casa. Absolutamente incrível.

As quatro equipas que vão estar nas finais europeias merecem o prémio e qualquer uma será digna vencedora dos troféus: o Real de Madrid foi incrível na superioridade sobre o Bayern Munique; o Atlético de Madrid surpreendeu Stamford Bridge com uma eficácia ofensiva incrível; o Benfica gelou Turim com um muro de betão; o Sevilha foi tremendo na surpresa imposta em Valência.

Também para os jogadores portugueses serão dias incríveis. Ronaldo, Pepe e Coentrão contra Tiago em Lisboa na final da Liga dos Campeões e uma semana antes Beto, Diogo Figueiras e Daniel Carriço contra o Benfica em Turim no derradeiro jogo da Liga Europa.

Se olharmos para as finais das competições europeias no séc. XXI é evidente o domínio das equipas ibéricas. Na Liga Europa registam-se quinze presenças de equipas da península contra 14 dos restantes países (quatro inglesas, três russas, duas alemãs, duas escocesas, uma francesa, uma holandesa e uma ucraniana), tendo conquistado sete taças (dois por portugueses e cinco por espanhóis), contra seis dos outros países. Também na Liga dos Campeões há domínio, com nove presenças ibéricas, suplantando as oito inglesas, sete alemãs, seis italianas e uma francesa. Os clubes da Ibéria também venceram seis vezes, contra quatro da Itália, três de Inglaterra e dois da Alemanha.

Sabendo que o futebol europeu é o mais entusiasmante do planeta, resta esperar que a Península Ibérica continue a dominar o desporto e levar até à final do Mundial Portugal e Espanha, provando que é aqui que reside a essência desde desporto fantástico na atualidade.

PS - Não deixa de ser curioso que as três equipas que deram as maiores amarguras ao FC Porto esta época estejam nas finais.

«Um Domingo Qualquer» é uma coluna de opinião quinzenal do jornalista Filipe Caetano