Tirambaço: substantivo masculino; Chute violento em direção ao gol. 

Pavones.

Quando Paco se estreou pelo Real Madrid em 2001, a troca foi simbólica: saía o último resistente da Quinta del Buitre, entrava um rapaz vindo da formação e cujo nome iria ecoar pela história do clube de Chamartín.

Paco, que é diminutivo para todos os Franciscos do Castelhano, ao contrário de Manolo Sanchís não ficou nos registos como um glorioso futebolista do Real Madrid.

Também foi campeão europeu como Sanchís e até venceu dois campeonatos de Espanha. No entanto, o nome de Francisco Pavón ficou para sempre oposto ao de Zinedine Zidane.

Zidanes.

A era galáctica do Real Madrid começou em 2000, quando Florentino Pérez chegou ao clube. Figo e depois Zizou foram as duas maiores estrelas que o presidente quis na constelação. A política de Pérez era simples: contratar um galáctico em cada verão e juntar ao plantel os jovens da cantera e outras promessas da Liga espanhola.

O Real Madrid seria uma equipa de Zidanes y Pavones.

Seria, mas não foi, porque apesar do sucesso inicial, o projeto foi por água abaixo e culminou na demissão de Pérez em 2006.

A era galática não seria mais?

Pérez voltou ao Real Madrid e fez reset à ideia de 2000. Primeiro Kaká, depois Cristiano Ronaldo. O problema, no entanto, era outro: Barcelona. Numa política absolutamente oposta, os catalães dominaram o mundo, pode dizer-se, até à presente temporada. Ela marca uma inversão do curso da História e tem um responsável acima de todos.

Zinedine Zidane é o maior vencedor de 2016/17, na escala planetária do futebol. Não só porque interrompeu a hegemonia do Barça na Liga e nem apenas porque se tornou bicampeão europeu no banco do Real Madrid. É por tudo isso, claro, mas, sobretudo, pelo modo como o fez.

O próprio francês abanou a cabeça em desacordo quando lhe perguntaram se era o melhor treinador do mundo. Não é. Mas foi o treinador ideal para o Real Madrid de Pérez e Ronaldo.

Só alguém de enorme estatuto poderia dizer ao português para abrandar. Melhor, muitos podiam dizer-lhe, poucos teriam sucesso em convencê-lo.

O madeirense olha para o atual treinador como alguém que é seu par. O futebolista de uma era, um Bola de Ouro. Alguém que pode caminhar lado a lado com Ronaldo no passeio da História do futebol mundial.

Abrandar Ronaldo, que parecia coisa impossível, foi cartada decisiva na temporada de sucesso do Real Madrid.

Zizou ainda teve mais méritos do que este. A Liga espanhola disputou-se até aos primeiros segundos do último jogo. Com a equipa em duas frentes, Champions e campeonato, perseguida a uma velocidade louca pelo Barcelona na prova interna, Zidane apostou e muito na cantera.

Correu o risco de o céu lhe cair em cima. O maior medo dos gauleses, como é sabido. E venceu. Não só venceu como venceu bem, com os rapazes mais novos – os Nachos, os Lucas Vasquez, os Asensios e os Moratas - a demonstrarem uma tremenda capacidade e qualidade para os desafios.

Zidane foi o melhor amigo de Ronaldo e Florentino Pérez. O português surge lançado para mais um troféu de ouro individual e o presidente confirmou, finalmente, que a sua política original resulta, saiba ele a quem dar o leme… Os Zidanes y Pavones são hoje os Ronaldos y Nachos ou Ronaldos y Asensios, se soar melhor.

Há, até, uma ironia metida no meio disto tudo. Zidane foi um galáctico em campo e, formado como técnico na casa blanca, tornou-se no banco o melhor de todos Pavones de Florentino.

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter