Tirambaço: substantivo masculino; Chute violento em direção ao gol. 

Iker Casillas num banco de suplentes numa partida de Liga dos Campeões.
 
Imagem icónica, em 2002, repetida em Leipzig, mas desta vez sem heroísmos de última hora como sucedeu na novena do Real Madrid frente ao Leverkusen.

Na Alemanha, a figura imensa que é o espanhol no futebol mundial foi para o banco e, com isso, a titularidade de José Sá passou a questão Casillas nas opiniões de alguns cronistas e adeptos.

O treinador do FC Porto foi interrogado sobre o tema. Todos lemos/ouvimos o que disse.

«Opção técnica».

Aquilo é o que fica (por isso está isolado neste texto), mas Sérgio Conceição disse mais. Disse que considerou que aquele onze titular, e José Sá fez parte dele, «era o melhor para começar o jogo de acordo com o trabalho diário e uma outra característica do adversário».

Analisando esta parte, diria que a origem de uma possível questão maior com Casillas (vi escrito que seria já um caso) está na generalização que o treinador fez para o onze.

Se Conceição falasse apenas do guarda-redes, não seriam estes também os critérios com que um treinador escolhe alguém para a titularidade, da baliza ao avançado? Trabalho diário/semanal, estratégia para o jogo?

Estivéssemos a falar de um médio (Oliver/Sérgio Oliveira) e o assunto, com base naqueles dois critérios, não era. Se resultasse errado, seria uma falha de estratégia, «nada mais» - com todas as aspas que isto implica!

Sérgio Conceição não é tipo de se refugiar, mas faltou responder, ou alguém perguntar, que características foram essas que o levaram a optar por José Sá em vez de Casillas.

Mais tarde, questionado se a opção por Sá era «apenas» para a partida com o Leipzig ou houve alguma troca na hierarquia da baliza portista, o técnico retorquiu: «Vamos ver. Hoje foi assim, mas os jogos são diferentes. Se falasse do José Sá, tinha de falar todos. Tinha de falar do Layún e do Ricardo, do Reyes e do Marcano. Não vou fazer isso, obviamente.»

O treinador do FC Porto tinha três opções: responder que Iker é o número um; dizer que Sá era agora o dono da baliza; deixar o tema em aberto.

A primeira implicava acabar com toda a especulação sobre um possível caso, mas sustentava melhor os críticos em relação à opção que tomou em Leipzig.

A segunda daria azo à especulação sobre Casillas e a terceira, que preferiu, também.

Essa terceira protege, de alguma maneira, José Sá da exibição na Alemanha e defende, em si mesma, o critério que Conceição diz ter usado em Leipzig.

Sérgio até terá sido coerente.

O problema, claro, é que Casillas não é um tipo qualquer e o passado que tem, para o bem e para o mal, fazem levantar o sobrolho - «decisão técnica» foi o mesmo argumento usado por José Mourinho. Ainda assim, factualmente e esvaziando-as, não há nas palavras de Conceição algo que indicie uma questão maior. 

Certezas sobre se ela existe, porém, só quando o treinador aparecer na sala de imprensa para antever a jornada. Ou surgir a ficha de jogo do duelo com o Paços de Ferreira.

Até lá, parece-me que o mais relevante da partida do FC Porto em Leipzig é a abordagem global à mesma. Essa sim, à mostra de todos e… errada, pela segunda vez na Champions. 

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter