6 de fevereiro de 1958, Munique. O relógio aponta data e local.

Sir Alex Ferguson Way. Passadeira, nova morada. A estátua de sir Matt Busby, numa rua com o nome dele. À esquerda, a United Trinity: Best, Law, Charlton. E o relógio. A apontar data e local.

Ali está ele, no cimo da South East Corner, mesmo antes do túnel de Munique.

Old Trafford é lugar mágico em cidade de pouco interesse. Um palco em que o novo dá a mão ao antigo, onde a glória e o sucesso têm memória de um pesadelo. Lugar final dos rapazes do The Cliff, antes, e dos de Carrington, agora.

O Manchester United é um clube enorme.

Ouvimo-lo repetidamente. Lemos e até o vemos. Na TV, na página da wikipedia com a listagem de troféus, em Bryan Robson, Cantona, Ronaldo, na class of 92 ou num outdoor publicitário no meio do Vietname.

O Manchester United é um clube enorme por tudo aquilo. Mas é um gigante entre gigantes porque percebe o que raramente se percebe: que a herança sentimental de um clube deve ser preservada, não apenas nas datas próprias, mas no dia a dia e longe do olhar público.

A 6 de fevereiro de 1958, em Munique, um desastre aéreo vitimou 23 pessoas, oito jogadores do clube de Old Trafford.

Pogba, que é francês, publicou sobre as Flores de Manchester. Paul, um desses rapazes de Carrington...

Juan Mata, que é de Burgos e cresceu entre as Astúrias, Madrid e Valência, também prestou homenagem.

E Marcus Rashford nasceu quase 40 anos depois daquele trágico dia. Tem 20 anos. Que pode saber ele, que pode ele sentir sobre Munique? Que pode um tipo qualquer que chega ao United vindo de outra parte do mundo, como por exemplo as Astúrias, perceber o significado das Flores de Manchester?

Deixem que um miúdo, de 20 anos, natural da cidade vos diga.

«Quando tens 7 ou 8 anos, há pequenas coisas em redor que começas a perceber. Aos 16 ou 15 anos, foi aí que o Paul McGuinness [antigo treinador da académica] nos começou a chamar a atenção. Víamos imensos vídeos dos jogos deles, especialmente na Taça de Inglaterra das camadas jovens. Por isso, pudemos ver imagens daqueles jogadores quando eles eram novos. É muito perto de nós, toca-nos o coração e ajuda-nos a perceber, mesmo que não tenhamos estado lá. Foi um evento muito triste, ninguém merece que este tipo de coisas aconteça. Mas, infelizmente, aconteceu e o clube tem sido admirável no modo como tem formado jogadores desde essa altura, da mesma maneira que criámos os Busby Babes. Coisas destas nunca abandonarão um clube familiar como o United. Não interessa quantos jogadores novos comprem, ou qual a idade deles. Não interessa quantos treinadores ou técnicos vêm, todos eles vão entender o que significa ser deste clube.»

Um dia, quando for a Old Trafford pela primeira vez, você vai olhar para um relógio. Terá hora, mas você reparará na data e local: 6 de fevereiro de 1958, Munique. 

E ouvirá o eco eterno das Flores de Manchester.

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter