Ayrton Senna da Silva.

Um nome que causa arrepios na espinha, um ponto amarelo de preocupação no retrovisor dos restantes pilotos.

Senna foi campeão dos campeões. Não é o mais titulado deles, Schumacher ainda tem esse recorde e Hamilton já lhe bateu outros. Mas Ayrton foi campeão do povo e da emoção. Foi o maior na adversidade, no sofrimento e debaixo de chuva.

Deixemos Tamburello para trás. Esqueçamos por momentos que aquela curva maldita deixou o Brasil em lágrimas e engrandeceu a lenda do homem. Lembremos os momentos de glória.

Ayrton Senna da Silva fez muitas corridas de Fórmula 1. Muitas delas extraordinárias.

Esta, por exemplo, ele nem ganhou.

No Mónaco – onde mais podia ser – saiu da 13ª posição e terminou no segundo posto, numa altura em que se aproximava do líder Alain Prost e a corrida foi finalizada antes do total das voltas. Que carro conduzia Senna? O famoso McLaren? Não. Um Williams. Não? Nem um Lotus. Era um Toleman!

P.S- chovia no Principado.

Em 1985, Ayrton Senna teve a primeira vitória num GP. Local: autódromo Fernanda Pires da Silva, Estoril, Portugal. Depois da Pole Position, o primeiro lugar de sempre, ao volante de um Lotus.

Já agora, chovia nesse domingo.

Também chovia em Donington, Inglaterra, em 1993.

Ao volante de um McLaren, Senna partiu do quarto posto. E depois fez isto. Fez aquela que é considerada a melhor volta de sempre na F1 e terminou a corrida com uma volta de avanço a todos, como no Estoril em 1985, menos ao segundo classificado: ainda assim, Damon Hill ficou a 1:23 minutos do brasileiro!

Já lhe disse que chovia?

Para mim, a maior vitória de Senna, a corrida de uma vida, sucedeu, porém, em 1991.

Ayrton nunca tinha vencido em Jacarepaguá ou Interlagos. O homem que acordava o Brasil aos domingos nunca tinha sido primeiro diante de seu povo.

1991 mudou isso.

Em Interlagos, Senna arrancou da pole position.

Mansell perseguiu-o de perto desde a primeira volta. Mais tarde teve um furo e depois desistiu.

Ayrton ficou com caminho livre para a vitória.

A oito voltas do final, no entanto, ficou sem Ederson, Nelson Semedo e Lindelof. Ou melhor, teve problemas na caixa de velocidades e perdeu a quarta, depois a terceira e por fim a quinta. Senna tinha de fazer o resto do Grande Prémio apenas em sexta.

Riccardo Patrese já lhe surgia no retrovisor e aproximava-se a uma velocidade vertiginosa. O sonho de Ayrton vencer em casa parecia fugir-lhe outra vez.

Perto do fim, começou a chover…

De dentro do carro, Senna apontou para o céu e com o McLaren sempre em sexta, quase parado nas curvas, levou-o até à bandeirola de xadrez. Ayrton berrava de alegria. Pediu a bandeira do Brasil e, poucos metros à frente, parou o McLaren de vez. Exausto, com cãibras e febre.

A cerimónia do pódio foi todo outro capítulo.

Sem forças, Ayrton Senna do Brasil ergueu a bandeira do país, não conseguiu levantar a taça como devia, mas tomou banho de champanhe.

Não foi por acaso que Ederson, Nelson Semedo e Lindelof entraram numa história de Senna que nada tinha a ver com eles. Primeiro porque Ayrton era sócio do Belenenses e depois porque os três nem eram nascidos. Mas foram subtraídos a um carro de sucesso – a analogia ao Ferrari não é minha, como sabem – e que agora se vê, também, sem Krovinovic.

Mesmo que o FC Porto seja líder do campeonato – e justo que é -, mesmo que o dragão tenha tido o melhor futebol até ao momento, porque tem tido – isto ainda é o meu espaço de opinião -, mesmo que o Sporting tenha investido em melhorias e pareça bastante fiável, o Benfica tem sabido ultrapassar as adversidades, e a comparação com Senna, num longo texto como este, pode ser absurda em todos os pontos menos neste: a capacidade de superação dos campeões nunca deve ser subestimada. Mesmo que eles percam a terceira, a quarta e a quinta velocidade. E sobretudo se começar a chover.

Em 2015/16, choveu.

Aquela teria sido a corrida de uma vida e até pelo facto de apenas o FC Porto o ter conseguido, o Penta é a corrida de uma História.

No último fim de semana, apareceu e desapareceu à velocidade de um tweet a analogia do Ferrari dos encarnados que Jorge Jesus lançou em 2015/16. Foi-se a ver, e afinal era um Lotus

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter