Tirambaço: substantivo masculino; Chute violento em direção ao gol

ATENÇÃO: O TEXTO CONTÉM LINGUAGEM OFENSIVA

O cancro é o maior filho da puta que existe.

Assim mesmo, sem rodeios.

Não são apenas os que morrem de cancro que morrem com ele. Quem ama os primeiros vai indo aos poucos também. E todos conhecemos alguém que morreu de cancro. Ou alguém que perdeu alguém por causa desse filho da mãe.

O cancro, filho da mãe, mata muito e em várias formas.

Em Portugal, por exemplo, morrem quatro mulheres por dia devido a cancro da mama. Estamos a falar das nossas mães e irmãs. Namoradas e esposas. Filhas.

Nos EUA, os números estimados são de 307 660 mulheres com cancro da mama. Mais 2 600 casos nos homens. É esperado que 40 450 mulheres morram em 2016 de cancro da mama.

O filho da mãe está em todo o lado, não perdoa género, raça, ou crença.

Na NFL também entram todas as etnias, nacionalidades ou religiões. E ninguém liga a cores.

Viris, os homens que jogam futebol americano chegam a outubro e usam o cor de rosa nas chuteiras, nas toalhas, nos capacetes, na proteção para os dentes. Toda a parafernália é cor de rosa. Com intuito único: combater o filho da mãe.

Há quem diga que a iniciativa A Crucial Catch Campaign da NFL não é tão relevante na investigação do cancro da mama como a liga de futebol americano faz passar.

Podemos sempre melhorar, como é óbvio. Podemos fazer muito ou podemos fazer pouco. O importante é fazer. A NFL faz de forma concertada, há vários anos.

Por cá, o Estoril-Praia já fez e volta a fazer: vai ser cor de rosa em campo durante outubro. Por cada golo marcado vai dar 250 euros à Liga Portuguesa Contra o Cancro.

Espero que a quantia seja a mais alta possível, embora isso possa significar que o Estoril goleou o Caldas, o V. Guimarães, o Moreirense e o Boavista.  

O cancro, filho da mãe, vai torcer contra os canarinhos. Mas se todos os outros clubes, pelo menos os profissionais, se unirem em campanha, esse filho da mãe fica sozinho na bancada e é o único a torcer pelo 0-0.

A América tem muitos defeitos. Tem até Trump. Mas há muito que conhece o impacto social do Desporto. E usa-o. Apoia causas, porque isso também valoriza a marca e projeta o negócio. Com a campanha contra o cancro, por exemplo, todos ganham. Menos o filho da mãe.

A Liga de Futebol– aqui entendida como a soma de todos os clubes profissionais - já se uniu a iniciativas como a estorilista, é de justiça dizê-lo.Mas numa semana em que morreu Mário Wilson, um cavalheiro do nosso futebol, e o Estoril decidiu por si próprio repetir um gesto nobre, o espaço mediático andou à volta de páginas de facebook e comentadores de segunda à noite. A berraria foi tanta que até as páginas de jornais vinham aos gritos nesta quarta-feira.

Nesses entretantos, mais quatro mulheres morreram de cancro da mama em Portugal...Eram mães, irmãs, primas, esposas, namoradas, filhas... 

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter