Tirambaço: substantivo masculino; Chute violento em direção ao gol (Brasil)
Já o Brasil está cheio deles.
O último apanhado com o rabo de fora foi Heltton Mattheus, na terça-feira, que levou à desqualificação do Paulista de Jundiaí da Copa São Paulo em sub-20. Sobrou a vaga da final para o Batatais que perdeu a Copinha para o Timão.
Nascido em 1994, Heltton Matheus fez-se passar por um presidiário, encarcerado no Rio de Janeiro por roubo e tráfico de drogas.
Acontece também que o criminoso, de nome Brendon, nasceu em 1997. É sub-20, portanto. E primo de Heltton.
Heltton Matheus - um rapaz que devia ter disputado a final da Copa São Paulo de sub-20 não fosse esse problema chato de ter falsificado a idade - virou foragido no Brasil.
O famoso gato do FC Porto não fugiu, mas foi suspenso três meses. George Leandro Abreu de Lima, que a maior parte da vida foi Luís de primeiro nome sem o ser realmente, nasceu em Fortaleza, Ceará.
Que é a terra de Mozart.
Mozart Neto, filho do maior treinador da História do futebol cearense, Moésio Gomes.
Hoje, Mozart é «professor de educação física com extensão em fisiologia do exercício». É um palavrão de coisas, portanto.
Como não lhe chega, também é treinador dos sub-20 do Floresta Esporte Clube, em Fortaleza. Isto depois de ter treinado o Eusébio.
Mais importante que tudo aquilo, Mozart é o «dono» de uma história que o próprio me contou no início dos anos 2000, quando treinava futsal no distrito de Viseu.
O ano em que o FC Porto se sagrou campeão europeu foi o mesmo usado para o gato Leandro Lima. E aquele em que Mozart chegou a Portugal: 1987.
Vinha para jogar em Águeda e na mala de viagem já trazia a história. Com rabo de fora, evidentemente.
Joel Maneca, carioca, tinha passado no Flamengo. Subiu até ao estado de Piauí e ficou pelo nordeste brasileiro, como futebolista. Jogou pelo Ferroviário, pelo Fortaleza, pelo Tiradentes (de Piauí e do Ceará). E dizem os registos que acabou a carreira neste último.
Porém, surgiu hipótese de ir para a Costa Rica. Era 1987, lá está, e Joel Maneca estava com 37 anos. Mas tanta idade, a descoberto, ia cancelar o interesse costarriquenho.
Enquanto Mozart se preparava para atravessar o Atlântico uns meses mais tarde, o carioca pensava como ia resolver um problema que não tinha disfarce: aquele 37.
Num país que tem tanta coisa maravilhosa, há também elixir da juventude. E Joel Maneca, 37 anos, arrancou para Caridade, no sertão cearense.
Contou Mozart que o cartório da cidade tinha ardido. E quem chegasse ao novo «tinha o direito de refazer a sua inscrição de vida, desde que levasse duas testemunhas que comprovassem que realmente nasceu lá».
E 37 passaram a 27, como George passou a Luís e chegou ao FC Porto ou Heltton se passou por Brendon e chegou a lado nenhum.
O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter.