«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».

Nunca morri de amores por eufemismos. Definições mansinhas para atenuar a expressão firme da realidade … não, obrigado. Analiso a vida como analiso o futebol. Dizendo o que penso e o que sinto, livre e independente, todas as letras e o tom ajustado

Posto isto, o Clássico do Dragão. As dores portistas e a sobrevivência da águia em dez notas. Sem eufemismos, sem palavrinhas estéreis.

1. Antes de tudo, Óliver. Muito da tareia – assim mesmo – de futebol aplicada pelo FC Porto ao tricampeão nasceu e floresceu na extraordinária exibição do gigante de 174 centímetros. Encontra caminhos onde outros identificam paredes, rouba a bola com a subtileza dos comparsas de outro Óliver - o Twist criado pela imaginação de Charles Dickens - rodopia e lança com a mestria de outro baixinho da enciclopédia azul e branca: António Frasco.

2. Óliver, um pouco mais de Óliver: o espanhol fez tudo isto munido de um par de CHUTEIRAS PRETAS. Bravo!
 

3. O Benfica oscilou entre o pânico crónico (até aos 65 minutos), o rendimento mínimo (dos 65 aos 90) e o grito pela sobrevivência (descontos e golo de Lisandro).

4. A semana do Benfica é, de resto, um case study sobre eficácia em tempos de parco rendimento: vitória contra o Dínamo – golo de penálti e penálti falhado pelos ucranianos – e empate no Dragão – a única defesa de Casillas é no bom remate de Samaris de fora da área (o bom senso impede-me de incluir neste cálculo o balão de Eliseu).

5. Ederson (apesar de mal batido no golo), Nélson Semedo e os dois centrais foram os melhores do Benfica. Afirmar, como Rui Vitória fez, que a lesão de Luisão foi um contratempo… é uma pancadinha nas costas do veterano capitão.

6. Nuno Espírito Santo: o mesmo treinador que errou nas substituições – já lá vamos – é o mesmo que escolheu o melhor onze e colocou o FC Porto a jogar a um nível nunca visto nos últimos anos. Agressividade, raça, organização e, o mais importante, qualidade na tomada da decisões.

7. As substituições do FC Porto. A mais incompreensível é a troca de Óliver (por todos os motivos supracitados) por Layún. Cansaço? Faltavam 15 minutos, o FC Porto não aparentava qualquer quebra e este era O jogo para os portistas. Rúben Neves por Corona é discutível, sim, principalmente pelo que DIZ à equipa: atenção, agora é para controlar o jogo, sem risco.

8. Rui Vitória teve uma equipa sem bola, sem organização, sem armas para controlar a talentosa juventude (sôfrega, por vezes) do FC Porto. A retração dos dragões, por opção de NES, coincidiu com a entrada de André Horta. O Benfica teve mais bola, sim, mas a mesma qualidade: nula.

9. Herrera, Héctor Herrera, o alvo mais fácil. É óbvio que errou ao ceder canto quando tinha tempo e espaço para segurar e colocar a bola na frente; e é óbvio que errou ao hesitar na saída a André Horta no primeiro canto curto marcado pelo Benfica em todo o jogo. Mas a derrota do FC Porto explica-se assim? Eu vou mais pelos argumentos do João Tiago Figueiredo. Deixem descansar o pelotão de fuzilamento.

10. O Benfica sai da Invicta com cinco pontos de vantagem e o conforto do calendário: o FC Porto visita a Luz na segunda volta. Só a capacidade/qualidade mostradas por um e outro no Clássico me impedem de afirmar que o título é um sonho utópico para os pupilos de NES.

«CHUTEIRAS PRETAS» é um espaço de Opinião do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Um olhar assumidamente ingénuo sobre o fenómeno do futebol. Às quintas-feiras, de quinze em quinze dias. Pode seguir o autor no Twitter. Calce as «CHUTEIRAS PRETAS».