A partir do momento em que o nome do treinador português foi confirmado na liderança da equipa do FC Porto, iniciaram-se as naturais comparações e lembranças dos seus tempos do Sporting e do Sp. Braga. Por ter sido mais marcante e mediática a sua passagem pelo clube de Lisboa, apesar de ter sido em Braga que venceu algo, as lembranças ao serviço do Sporting dividem-se naquilo que é geralmente um traço comum na avaliação de uma liderança: o que se consegue atingir e o como se consegue atingir.

Hoje, sem jogar bem e com um autogolo, Peseiro entrou a vencer e a utilizar o jogador que ficou nos braços de Pinto da Costa. O modo como festejou com a bancada a vitória demonstra dois sinais: a necessidade de incluir os adeptos no seu caminho até ao possível sucesso e o alívio de entrar a vencer frente a um Marítimo que conseguiu mais remates que a sua equipa. Agora, com mais tempo e com algumas prendas que possam ainda chegar em janeiro, o que mudará tende certamente a mudar para melhor. Esperar para ver.

O que mudou em Peseiro?

Mas que treinador é este que chegou em janeiro ao Porto? O mesmo que quando saiu do Sp. Braga? Muito diferente? Mais preparado? Sabemos que não mudamos de personalidade apenas porque sim ou de um dia para o outro. Aquilo que qualquer treinador a partir de uma determinada idade é, enquanto um conjunto de valores e crenças, costuma-se manter durante uma grande parte da sua carreira. Os treinadores vão sim, ganhando um conjunto de ferramentas, melhores práticas, mais ação e treino naquilo que vai ao encontro do que eles pretendem fazer e do modo como o desejam fazer.

Logo, se observarmos José Peseiro enquanto treinador, aquilo que nos salta à vista é o facto de ser um treinador mais focado na tarefa do que propriamente na relação, sem que isto pressuponha que não tem jeito para as pessoas, para a liderança, para os conflitos. Apenas porque todos nós temos um foco e torna-se ainda mais difícil quando o foco é tudo e não assume prioridades. Sabe-se que o FC Porto neste momento dará mais ênfase ao vencer do que o modo como irá fazê-lo. A dúvida é se José Peseiro vai querer ser mais pragmático e realista ou se mais romântico e focado nas exibições.

Dizem os peritos que Peseiro é alguém extremamente preparado do ponto de vista técnico e tático. O plantel, apesar de desequilibrado, é excelente. Oferece muitas soluções numa grande parte das posições, restando saber se tem quantidade suficiente em algumas dessas posições para o modelo que Peseiro prefere. O grande desafio é saber como e se o treinador de Coruche vai conseguir diversas conquistas. Ganhar a confiança do plantel, sendo aceite e nunca impondo-se. Elevar os níveis de confiança dos atletas. E se o consegue até ter o primeiro percalço.

Entrada forte na apresentação

A conferência de entrada no clube teve impacto. Forte! Percebe-se que foi preparada ao detalhe. Dando uma imagem de confiança, esperança, compromisso, alguma assertividade e superioridade até, Peseiro definiu uma viagem que na opinião do clube ainda é possível chegar a um bom destino e que os jogadores terão de decidir se querem embarcar ou não. O que nos parece é que não há muito tempo para que alguns jogadores fiquem na dúvida. E aqui entram os resultados positivos como modo de os convencer.

Sobre Peseiro há uma balança ténue. De um lado um sorteio difícil na Europa e os cinco pontos de atraso para o Sporting. Do outro lado, sabendo-se que não foi a primeira escolha, mas sendo unânime o seu nome, a questão sobre como irá ganhar os adeptos e dirigentes portistas.

Opinião de Rui Lança, formador nas áreas de liderança, coaching, equipas e treinadores.