PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:
«Maradona ‘86» - de Sam Blair

« (…) Antes del inicio de la jugada, un hombre da un mal pase. Con ese error empieza la historia. Podría haber jugado hacia atrás o a su derecha, pero decide entregar el balón al jugador menos libre.

Ese hombre se llama Héctor Enrique y se queda inmóvil después del pase, con las manos en la cintura. Después de ese partido nunca podrá separarse del jugador, como si el hilo invisible del pase vertical se transformara, con el tiempo, en un campo magnético. (…) »

Hernan Casciari, diretor da revista Orsai, tem um artigo magnífico sobre o Golo do Século. De Maradona, pois então. Este é só um pequeno excerto. Recupera o momento em que Héctor Enrique ganha a bola e entrega-a a D10S. Depois… bem, depois chega a PERFEIÇÃO.

Fez 31 anos no dia 22 de junho, atirou-me de volta às cassetes VHS e ao melhor Mundial da minha vida. Ao Mundial em que conheci Diego e em que Diego me prometeu que jamais me largaria. Tem cumprido a jura.

« (…) Ocho pasos, de cuarenta y cuatro totales, dará el jugador dentro del área, y le bastarán para entender que el panorama no es favorable.

Hay un rival soplándole la nuca a su derecha, Terry Butcher; otro a su izquierda, Glenn Hoddle, le impide la cesión a Burruchaga; Fenwick se ha repuesto del amague y ahora cubre el posible pase atrás y, por delante, el portero Peter Shilton le cierra el primer palo.

El norte, el sur y el este están vedados para cualquier maniobra. Son las trece horas, doce minutos y veintisiete segundos del mediodía. Tres horas más en Buenos Aires. Seis horas más en Londres (…)

A linguagem é universal, a tradução é dispensável. O que se vê, o que se sente, o que se inspira é a atmosfera maradoniana. É O momento, O golo, O génio de um homem num relvado da Cidade do México.

1986, 22 de junho, férias da escola em Portugal, cinco putos em frente à televisão. Nunca viram nada igual, nada disto aparecera antes nas peladas de rua, naquela rua de paralelos no solo e nos postes da baliza. Como imitar Diego? É mais fácil ser Enrique, Valdano, Burruchaga…

« (…) Antes de tocar por última vez el balón con su pie izquierdo, a las 13 horas, 12 minutos y 30 segundos del mediodía mexicano, el jugador argentino ve que ha dejado atrás a Peter Shilton; ve que Jorge Valdano arrastra la marca de Terry Fenwick; ve que Peter Raid, Peter Beardsley y Glenn Hoddle han quedado en el camino; ve a Terry Butcher que se arroja a sus pies con los botines de punta; ve a Jorge Burruchaga que frena su carrera con resignación; ve a Héctor Enrique, todavía clavado en la mitad del campo, que cierra el puño de la mano derecha. (…)»

Evocar o nome Dele em vão é uma heresia. Hernan Casciari resiste até ao limite. Há futebol, há um quadro a pintar com palavras, há um palco a aguardar o artista.

« (…) Cierra los ojos. Se deja caer hacia adelante, con el cuerpo inclinado, y se hace silencio en todo el mundo.

El jugador sabe que ha dado cuarenta y cuatro pasos y doce toques, todos con la zurda. Sabe que la jugada durará diez segundos y seis décimas. Entonces piensa que ya es hora de explicarle a todos quién es él, quién ha sido y quién será hasta el final de los tiempos. (…)»

Ele é Diego Armando Maradona e esta é a sua história. 10,6 segundos no Mundial de 1986. Um artigo imperdível, um aperitivo delicioso para o documentário de Sam Blair. Conheçam Maradona, o futebolista, o génio, o percursor do futebol esteta, o futebol também de Messi.

Foi há 31 anos, 22 de junho, na Cidade do México. 10,6 segundos, pouco depois do meio-dia.

PS: «Master of None» – de Aziz Ansari e Alan Yang

Na primeira temporada, Dev (Aziz Ansari) tenta ser bem sucedido no mundo do cinema em Nova Iorque. Viaja para Nashville com uma menina chamada Rachel Silva, vai a um concerto do Father John Misty, junta os pais e os amigos, sempre com aquele sorriso inegociável.

A segunda arranca em Modena, Toscana, Itália. Há uma homenagem a preto e branco ao Cinema Paraíso e ao Ladrões de Bicicletas. É Cinema numa série televisiva, é a interpretação magnífica de Ansari, é a cumplicidade criada entre o espetador e um ator muito especial.

Master of None é tudo aquilo que um produto de televisão light deve ser. Estimula, entretém, convida, agradece. Obrigatório.



SOUNDCHECK:
«La Mano de Dios» - de Banda Saucillo

Um dos melhores momentos do documentário de Emir Kusturica sobre Maradona acontece aqui. D10S sobe ao palco e interpreta a música criada pela Banda Saucillo. Artista improvisado, público rendido, refrão viciante: «Maradó, Maradó!». Cantemos com Diego.

«En una villa nació, fue deseo de Dios,
crecer y sobrevivir a la humilde expresión,

enfrentar la adversidad
con afán de ganarse a cada paso la vida.

En un potrero forjó una zurda inmortal
con experiencia, sedienta ambición de llegar,
de cebollita soñaba jugar un mundial
y consagrarse en primera.

Tal vez jugando pudiera a su familia ayudar...

Grande DIEGO...

(Para el más grade del mundo...)

A poco que debutó "MARADÓ, MARADÓ",
la 12 fue quien coreó "MARADÓ, MARADÓ".
Su sueño tenía una estrella
llena de gol y gambeta...

y todo el pueblo cantó: "MARADÓ, MARADÓ",
nació la mano de Dios, "MARADÓ, MARADÓ".
Sembró alegría en el pueblo,
regó de gloria este suelo...»



PS: «OK NOT OK» - dos Radiohead
Edição especial do melhor álbum de todos os tempos, a comemorar 20 anos. Às 12 músicas originais, juntam-se Lados B, raridades e três músicas nunca antes editadas: Lift, I Promise e Man of War.

Paranoid Android, Let Down, Exit Music, Climbing Up The Walls, Karma Police, The Tourist... a sério, onde é que eu vou voltar a ouvir uma coisa destas, tudo no mesmo álbum? A perfeição apareceu em 1997, mostrou-nos o túnel do tempo e as agruras do passar da adolescência à vida de adulto, supostamente responsável.

Escutei-o de olhos fechados... de headphones nos ouvidos, a devorar os lyrics e a procurar algo que neles me fizesse sentido, que me fizesse entrar no pátio da escola com mais saber e conhecimento do que os outros putos.

As guitarras derretiam-se num mundo digital, as orquestrações e o computador davam o tom extra-sensorial, alienígena, a voz de Yorke transportava-me (nos) para um lugar insuportavelmente melhor. O Nirvana. Duas décadas depois, quero lá voltar.



VIRAR A PÁGINA:
«MESSI – A BIOGRAPHY» - de Leonardo Faccio»

Na semana em que Leo Messi cumpre 30 anos, nada melhor do que fazer uma viagem pela sua vida. Desconhecida fora dos relvados, resplandecente dentro deles. A biografia escrita por Leonardo Faccio é um dos melhores trabalhos sobre o justo sucessor de Diego Armando Maradona.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.