PLAY é um espaço semanal de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.

SLOW MOTION:

«PULP: A FILM ABOUT LIFE, DEATH AND SUPERMARKETS» - de Florian Habicht

Vida, morte, supermercados. Três vetores fundamentais na obra gloriosa dos excluídos de Sheffield, os Pulp. O documentário coloca-nos em 2013 e dentro da arena onde Jarvis Cocker canta/dança/representa para conterrâneos, amigos, fãs, perseguidores, nerds e freaks.

Na Arca de Noé de JC cabem todos os que a sociedade, lá está, exclui. É uma Different Class, em cima do palco e nas taciturnas ruas da urbe onde nasceram e cresceram todos os da banda.

E o futebol, onde entra nisto o futebol?

Nick Banks, baterista e velho parceiro de maratonas de boémia, é treinador da equipa feminina do Sheffield United – onde joga uma das filhas – e sobrinho do eterno Gordon Banks, campeão do mundo de 1966 e um dos melhores guarda-redes de todos os tempos.

A película é, naturalmente, muito mais do que futebol. Assenta nas três bases definidas pelos Pulp no título e dissemina-se em tentáculos interessantíssimos, um dos quais a desaguar em Banks, herdeiro quase anónimo do tio Gordon.

Uma boa desculpa, enfim, para recuperar as notas de uma das bandas marcantes dos 90’s em Inglaterra e sorrir perante a excentricidade irreprimível de Jarvis, JC para os amigos e os lava pratos (esta é só mesmo para conhecedores).


PS: Westworld – de Lisa Joy e Jonathan Nolan
Da mente de JJ Abrams – o senhor Lost – brota este regresso a Westworld. A ideia é uma adaptação de um original de 1973 e mantém as traves mestras: um parque de diversões futurista, andróides vestidos de atores, ambiente de Old West, paisagens fenomenais.

O parque é visitado por «idiotas ricos» e gerido por Robert Ford (sir Anthony Hopkins), líder de uma equipa composta por génios da tecnologia e exploradores da mente humana.

Vi o primeiro episódio e fiquei com vontade de voltar. Onde é que isto vai dar? Estou curioso.



SOUNDCHECK:

«O GOLO» - dos Belle Chase Hotel
O projeto de JP Simões associou-se a uma coletânea de músicas sobre e para o Mundial2002. O Golo é, de resto, uma das poucas faixas capaz de fugir ao tédio e à mediania, a antecipar a tragédia do futebol lusitano no torneio asiático.

A voz de Simões ajuda, claro, mas o ritmo é vivo e feliz. Uma incursão rara, quiçá única, do grupo de Coimbra pelo mundo do futebol.

O Golo from Belle Chase Hotel on Myspace.

PS: «You Want it Darker» - de Leonard Cohen
Tenho um amigo que gostaria de cantar e viver como Leonard Cohen. Confessou-mo em noites de karaoke, depois de baixar do palco e ser recebido por gargalhadas. True story.

Aliás, como diria Miguel Esteves Cardoso, o mais provável é que o senhor Cohen, o cavalheiro melancólico, esteja «deitado numa nuvem, rodeado por anjos do sexo feminino, a comer uvas enquanto te comoves a ouvir atentamente os nossos gemidos de saudade».

É uma boa forma, pacífica, de olhar para a partida (mais uma) de uma das grandes vozes do nosso tempo. Grave, rouca, autoritária.

Cohen deixou-nos um último álbum. Meses depois de perder a sua amada Marianne, compôs uma paleta de reflexões metafísicas sobre a morte. Impecavelmente vestido, sapatos reluzentes, a mão a levantar o chapéu.

So long, Leonard.

«Hineni, Hineni
I'm ready, my Lord».



VIRAR A PÁGINA:

«SER PROFISSIONAL NO AMADOR - de Bruno Leite, Eduardo Dinis, José Escudeiro, Ricardo Coutinho e Vítor Escudeiro

Os que me conhecem sabem da minha paixão pelo futebol distrital. Ou amador, se preferirem. Provavelmente por ter disputado esses campeonatos ao longo de toda a minha vida adulta.

É, assim, com agrado que acolho esta excelente ideia dos cinco autores: preparar os treinadores que se movimentam numa realidade super exigente, cuja gestão desportiva vai muito para além do mero rendimento de cada um dos atletas.

Os treinos em horário pós-laboral, os constrangimentos de treinar poucas vezes por semana e às vezes com escassos atletas disponíveis, tudo resumido em cinco áreas que os autores consideram primordiais: treino, scouting, coaching, fisioterapia e gestão desportiva.

Como bem recorda a editora (Prime Books), «entre 85% a 90% dos clubes de futebol (com equipas seniores) são amadores». Um trabalho fundamental, pois, para todos os que se movimentam no apaixonante futebol regional.

Parabéns pela ideia, pela conceção e pela excelente capa.

«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt.
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