PLAY é um espaço de partilha, sugestão e crítica. O futebol espelhado no cinema, na música, na literatura. Outros mundos, o mesmo ponto de partida. Ideias soltas, filmes e livros que foram perdendo a vez na fila de espera. PLAY.
SLOW MOTION:
«Mauro Shampoo: Jogador, Cabeleireiro e Homem» - de Leonardo Cunha Lima e Paulo Henrique Fontenelle
«Jogador do Íbis, cabeleireiro e homem. Macho. É o único no Brasil. Mauro Shampoo às suas ordens, amigão.»
Se algum dia tiver necessidade de telefonar para o salão de cabeleireiros do senhor Mauro, no Recife, é assim que será atendido. Mauro é uma jóia de pessoa, coração de ouro, mas um verdadeiro perna de pau no futebol.
Nos anos 80, Mauro Shampoo vestiu a camisola 10 do Íbis, a pior equipa do mundo. Era uma espécie de João Broncas – avançado fura redes, mas sem a capacidade de furar.
Farta cabeleireira, caracóis negros e uma tremenda incapacidade para jogar futebol. Nada que preocupe o bom do Mauro, 30 anos depois.
«Sempre usei o pé esquerdo e inspirava-me no Maradona», diz Mauro, um bem disposto por natureza. «Golos em toda a minha carreira profissional? Fiz um com a camisola do meu Íbis.»
A figura folclórica, um de 14 irmãos, engraxou sapatos num hotel, dormiu na rua, sobreviveu como pôde. A sua história inspirou uma dupla de realizadores e a história de Mauro Shampoo chegou até nós. Para ver de sorriso nos lábios.
«Um a um? Não senhor, não empatámos. Perdemos 11 a zero, não confunda.»
PS: «Mindhunter» – de David Fincher
O aclamado realizador de «Seven», «Fight Club» e «O Jogo» é produtor executivo e assina quatro episódios da primeira temporada desta nova série televisiva. Fincher acompanha dois agentes do FBI numa sinistra viagem à mente de 30 assassinos em série.
O primeiro episódio, o único que vi, arranca como um caso típico de negociação de reféns e viaja pelo percurso invulgar do agente Holden, interpretado pelo semi-desconhecido Jonathan Groff.
Tem a assinatura de Fincher e isso para mim é suficiente.
SOUNDCHECK:
«Ponta-de-lança africano (Umbabarauma)» - de Jorge Ben
Falar de música brasileira e futebol é falar de Jorge Ben Jor, ele próprio um frustrado candidato a futebolista, despachado pelo seu Flamengo ainda nas camadas jovens.
Uma das composições fala de Umbabarauma, um avançado africano que Jorge Bem viu certo dia a jogar em França e que na verdade se chamava…Babaraum.
No dia seguinte ao dérbi da cidade do Porto e a mais golos da tríade africana – Aboubakar, Marega e Brahimi -, nada como escutar este «Ponta-de-lança africano» de Jorge Ben Jor.
«Umbabarauma homem-gol
Umbabarauma homem-gol
Umbabarauma homem-gol
Umbabarauma homem-gol
Joga bola, joga bola
Corocondô
Joga bola, joga bola
Jogador
Pula, pula, cai, levanta
Sobe, dece, corre, chuta
Abra espaço
Vibra e agradece
Olha que a cidade
Toda ficou vazia
Nessa tarde bonita
Só pra te ver jogar»
PS: «A Deeper Understanding» - dos The War on Drugs
É fácil perdermo-nos no mundo de Adam Granduciel. O meticuloso trabalho de estúdio, a obsessão com o pormenor, a eloquência da componente instrumental - «Pain» é um belo exemplo disso – tornam a audição deste álbum uma experiência intensa e emocional.
Três anos depois do maravilhoso «Lost in the Dream», Granduciel volta a reunir-se dos camaradas eclesiásticos e assina mais um trabalho de excelência superior. Há aqui uma óbvia herança de Springsteen e dos sons orgânicos de evocação maquinal, homem vs. computador.
Universo peculiar, autêntico sim, mas com reminiscências de Petty, Dylan ou Young. Um belo disco, seja como for.
«PLAY» é um espaço de opinião/sugestão do jornalista Pedro Jorge da Cunha. Pode indicar-lhe outros filmes, músicas e/ou livros através do e-mail pcunha@mediacapital.pt. Siga-o no Twitter.