Ponto por Ponto é um espaço de Opinião quinzenal do jornalista Vítor Hugo Alvarenga. Baseando-se no sistema de classificação utilizado pelo Maisfutebol, destaca positiva ou negativamente figuras do panorama desportivo:

POSITIVO:

5 pontos: Cristiano Ronaldo

Não irei fazer a defesa de Cristiano Ronaldo perante a acusação do Fisco espanhol. Aliás, seja qual for o desfecho, importa salientar que a falta de conhecimento sobre determinado tema não iliba o sujeito.

O que me traz aqui, acima de tudo, foi o golpe feio da imprensa de Madrid – alegadamente, respondendo a um pedido do Real – no tratamento do caso, colocando Ronaldo com a camisola de Portugal e não do clube merengue. Como denunciou o catalão Sport, houve uma estranha coerência dos jornais da capital na abordagem ao tema sensível. A resposta – é a minha interpretação, apenas – veio através de A Bola, como uma bomba: «Ronaldo quer abandonar Espanha».

Se Florentino Pérez não sabe onde está o problema, pode começar por ler os jornais que lhe são próximos. Acredito que o português acabará por ficar em Madrid e fazer o que melhor sabe: marcar golos. Com o festejo perante a Rússia, chegou aos 31 golos em 31 jogos realizados em 2017, a caminho de mais uma Bola de Ouro. O registo não lhe garante impunidade mas justifica respeito. Com a camisola de Portugal, por exemplo, quase sempre o teve. Essa é sua, eternamente. Se em Espanha quiserem tirar-lhe a do Real, como fizeram quando lhes era conveniente, Cristiano Ronaldo não ficará certamente a chorar pelos cantos.

4 pontos: Alan

Alan merece uma ovação especial por três motivos: foi antes de mais um grande jogador; prolongou a carreira até à barreira dos 38 anos (chegará lá em setembro); esteve nove temporadas ao serviço do mesmo clube, o Sp. Braga.

O brasileiro quer ser lembrado por exemplo pelos seus golos em Manchester – um deles após trabalho soberbo de Éder – mas também pela longevidade, algo que serve de lição para quem abomina os trintões. Por fim, mostrou-se fiel a um clube e teve idêntica resposta. Assim, é premiado e passa a elemento da estrutura do Sp. Braga. 

Numa época em que todos os valores são colocados em causa, em que se vendem sentimentos por meia dúzia de euros, fica a lição: quem salta de clube em clube passa a ser de clube nenhum e cairá no vazio. A lealdade ainda é um bom princípio.

3 pontos: Seleção Nacional de sub-21

Cinco anos e oito meses sem derrotas em jogos oficiais é obra. Perder com Espanha (1-3), outra potência do futebol europeu, deve provocar desconforto sem apagar o que ficou para trás.

Rui Jorge tem enorme mérito nessa caminhada e o atual leque de jogadores à disposição do Selecionador Nacional de sub-21 empolga qualquer adepto português: abundância de qualidade no meio-campo e nos flancos ofensivos, a par de algumas questões por resolver.

Edgar Ié, por exemplo, tem uma capacidade de aceleração tremenda mas são poucos os centrais que fazem carreira com 1,80m (como é o seu caso) ou menos. Aos 23 anos, essa indefinição prejudica o jogador, utilizado como lateral direito no Belenenses. Veremos igualmente se Rúben Semedo ganha estabilidade em Espanha. Portugal precisa de centrais de plena confiança para o futuro. O leque à disposição de Fernando Santos começa a ser curto.

NEGATIVO

2 pontos: Hermínio Loureiro

A operação Ajuste Secreto, relacionada com «manipulação das regras de contratação pública» originou a detenção de uma figura influente no futebol português.

Hermínio Loureiro foi detido na condição de ex-presidente da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis mas é igualmente vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol e do Comité Olímpico de Portugal, assim como ex-presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional.

Essa detenção, que não belisca a presunção de inocência até prova em contrário, afeta desde já a imagem de Hermínio Loureiro e, indiretamente, do futebol português. O silêncio de FPF e COI sobre este tema pode não ser resposta à altura dos acontecimentos.

1 ponto: O caso dos e-mails

Cabe às autoridades competentes investigar o alcance dos e-mails do Benfica colocados na esfera pública pelo FC Porto, através do seu diretor de comunicação. Assim como lhes compete averiguar a origem dos e-mails, embora tal seja uma questão paralela à outra, a central.

O que causa profunda irritação nesta polémica é o discurso repetido que emana das instituições, o pedido de «celeridade» de cá para lá, de lá para cá, como se a responsabilidade fosse sempre de outrem. É algo tipicamente português.

A Liga 2017/18 começará a 9 de agosto, daqui a mês e meio, e creio que nada mudará até lá, contribuindo para um clima irrespirável ao longo do verão. Até agora, a única reação interessante foi de Mário Figueiredo. Honra seja feita ao antigo presidente da Liga, não obstante o fraco desempenho no cargo: tomou uma posição clara, apresentou o seu contexto, quebrou o silêncio. Tudo o resto tem sido mau. Péssimo. Horrível.