Ponto por Ponto é um espaço de Opinião quinzenal do jornalista Vítor Hugo Alvarenga. Baseando-se no sistema de classificação utilizado pelo Maisfutebol, destaca positiva ou negativamente figuras do panorama desportivo:

POSITIVO:

5 pontos: Leonardo Jardim

O Ponto por Ponto desta quinzena será dedicado exclusivamente a treinadores portugueses. Que me perdoem os jogadores, que suspirem de alívio os dirigentes, mas desta vez é foco vai para o banco. Em março de 2015, Leonardo Jardim ainda era parodiado por alguns franceses e respondeu com uma candidatura a melhor pedreiro português no país, uma piada fácil e de mau gosto que costuma ser utilizada para rebaixar os nossos emigrantes. Agora a obra – não de construção civil - é reconhecida por todos e multiplicam-se os elogios. É mais um triunfo luso em solo gaulês, contra algumas ideias pré-concebidas. Temos ainda Sérgio Conceição a ser elevado a Rei em Nantes por jogadores e adeptos, bem como Rui Almeida a alimentar o milagre de salvação do Bastia. Difícil, mas ainda possível.

4 pontos: Paulo Fonseca

Assumiu a pesada herança de Mircea Lucescu no Shakhtar Donetsk. Embora seja um crónico candidato ao título, a verdade é que Dínamo Kiev mudou esse cenário antes da chegada de Paulo Fonseca. Fora do seu ambiente, com desconfiança inicial e compreensível, o treinador português levou o Shakhtar Donetsk à dobradinha, algo que escapava ao clube desde 2013. Pelo caminho tombou de forma inglória nos 16avos de final da Liga Europa, frente ao Celta de Vigo. Paulo Fonseca tem mérito pela forma como superou um passo em falso na carreira (no FC Porto) e manteve a postura. Entre as conquistas da Ucrânia, a equipa técnica teve gestos bonitos como dar os parabéns ao Desportivo das Aves pelo regresso à Liga e desejar boa sorte a Salvador Sobral para a final do Festival da Eurovisão, que se realizou no país. Por aqui também se vê a dignidade das pessoas.

3 pontos: Rui Vitória

Não alinho na crítica ao desempenho do treinador no banco do Benfica, até porque tenho dele boa imagem. Recordo uma boa entrevista em Guimarães, enquanto Rui estava no Vitória (pode ouvir no final do texto). Porém, a avaliação deve ser honesta e os números dão uma ajuda. Este ano, para a conquista de um inédito tetra na sua história, o Benfica de Rui Vitória não teve um registo particularmente empolgante. Bastou para superar os rivais. Da mesma forma que o desempenho na Liga 2016/17 fica apenas acima da média, a caminhada da época passada foi a melhor do tetra e permitiu (em conjunto com os anos de Jorge Jesus) superar os números dos ciclos similares de FC Porto e Sporting. Esses são os dados concretos e irrebatíveis.

NEGATIVO

2 pontos: Marco Silva

Vamos novamente aos números: quanto Marco Silva assumiu o Hull City, a equipa ocupava o último lugar, a três pontos da linha de água, onde se encontrava o Crystal Palace. O seu antecessor fez 13 pontos em 20 jogos (média de 0,65), Marco conseguiu 21 pontos em 17 (1,24). Infelizmente, não chegou. Na fase decisiva, o Hull City perdeu com o último e com o próprio Crystal Palace. Saltou do 20º para o 18º lugar mas está a 4 pontos da linha de água. Por mais que sejam evidentes as melhorias, com um plantel limitado, a avaliação não pode ser totalmente positiva. Mau seria. A honestidade intelectual tem de se superiorizar-se a convicções – Marco Silva é muito bom treinador, de facto – e patriotismos. Nem o português estará satisfeito, por certo, porque falhou o objetivo assumido.

1 ponto: Jorge Jesus

Defendo que a grande diferença entre os melhores e os outros resume-se a isto: erram menos. São igualmente falíveis, como demonstra o passado recente de José Mourinho (a Liga Europa não basta) e sobretudo esta temporada de Jorge Jesus no Sporting. Podia incluir neste patamar Nuno Espírito Santo, mas as expectativas com o FC Porto eram inferiores, no arranque para a época 2016/17. O grande derrotado, pelo que havia feito na temporada passada e pelo estatuto que tem – um treinador com salário elevadíssimo, justo ou não -, foi precisamente Jorge Jesus e o seu Sporting. Chega à penúltima jornada a 14 pontos do Benfica e a 9 do FC Porto, dois adversários sem registos de nível superior, como aconteceu na reta final de 2015/16. O seu lugar fica em causa? Não creio. Tem provas dadas e, como disse, os melhores (Jesus é um deles e esteve em metade do tetra do Benfica) deixam apenas uma garantia: erram menos. Mas erram, como todos.